Passo Fundo vive a mudança há 165 anos, com transformações que vão desde os saltos geracionais da população até o asfaltamento dos seus paralelepípedos e verticalização das moradias. O tempo muda a cara da cidade e essa feição é moldada também pela arquitetura, que mesmo em meio à modernização, segue com a história refletida na resistência daqueles prédios e fachadas que são patrimônio histórico do município.
Para o secretário municipal de Planejamento, Giezi Schneider, preservar o patrimônio significa dar valor para quem fomos e somos como cidade:
— Quando a gente olha para o patrimônio e preserva, valorizamos o esforço da nossa sociedade no passado e dando um sinal de que não queremos viver numa cidade momentânea.
GZH Passo Fundo destacou seis locais tombados, seus históricos, características e resgate do acervo fotográfico, remontando uma cidade que, em breve, se tornará bicentenária. A reportagem é embasada na pesquisa da arquiteta e urbanista Marielen Colpani, responsável pelo planejamento urbano e pela área de patrimônio histórico do município.
Prédio da Estação Ferroviária – Gare
A antiga estação ferroviária ficava localizada ao sul da cidade, hoje, na região central. Foi implantada numa faixa plana de terra de uma área em declive, tendo uma cota mais baixa que a Praça Marechal Floriano, e mais alta que o setor residencial, que atualmente se localiza em sua frente. A sua construção gerou o desenvolvimento da zona com a ampliação de edifícios comerciais, industriais e serviços, sobretudo hotéis.
A responsabilidade das obras ficou por conta de uma companhia francesa, a primeira empresa a explorar estradas de ferro no Rio Grande do Sul. A Comissão encarregada dos estudos definitivos do traçado da ferrovia chegou à cidade em 1890. As obras iniciaram em 1891 e em 1988, chegaram a Passo Fundo. Desde 2019, funciona no local a Estação Gastronômica da Gare, em uma concessão entre a prefeitura e a iniciativa privada.
Clube Caixeiral
Em 1901, um grupo de italianos radicados em Passo Fundo constituiu a Sociedade Italiana de Mútuo Socorro — Yolanda Margarida de Savoia. Em 1937, foi inaugurada a sede social da rua Bento Gonçalves e, em 1938, passou a ser o Clube Caixeiral.
O prédio possui uma linguagem de transição do historicismo ao art deco, observados na composição arquitetônica simétrica do volume original em comparação com balcões arredondados e frisos retos na ampliação lateral de 1944.
Atualmente, o prédio ainda funciona como a sede social do clube.
Museu Histórico Regional, Museu de Artes Visuais Ruth Schneider, Academia Passo-Fundense de Letras e Teatro Municipal Múcio de Castro
Em 1909, Luiz Ricci iniciou a construção do edifício da Intendência Municipal, solicitado pelo então prefeito Cel. Gervásio Lucas Annes, que havia encomendado o projeto. A obra foi inaugurada em 1911 e custou 34 mil contos de réis. O prédio abrigou a Intendência até 1930, quando houve uma alteração de nomenclatura do Executivo Municipal, que passou a denominar-se Prefeitura Municipal. O órgão público manteve a sede até 1976, quando se passou para um novo local, também na Avenida Brasil.
Em 1994, o prédio sofreu uma obra de refuncionalização, objetivando abrigar o Museu de Artes Visuais Ruth Schneider (MAVRS). O museu foi inaugurado em 18 de maio de 1996 e pertencia à Universidade de Passo Fundo (UPF). A primeira diretora foi Roseli Pretto, responsável pela criação do mesmo. Atualmente, o prédio voltou a ser da prefeitura e passa por revitalização.
De acordo com a arquiteta e urbanista Marielen Colpani, é incomum no urbanismo brasileiro, e mesmo latino-americano, que a sede do Executivo não se localize frente à praça principal da localidade, tradicional centro de poder das cidades ibéricas apoiadas no modelo do urbanismo grego-renascentista. Esta distinção no arranjo urbano deve-se à importância histórica da Avenida Brasil, antigo caminho dos tropeiros, atividade que originou a parte urbana do município.
Solar do Glória
O primeiro proprietário do Hotel Glória foi José Knoll, o qual, até 1955, manteve o estabelecimento de 36 quartos, conhecido à época como conhecido como Casa Knoll. O hotel, ambiente de prestígio na época, recebeu vários hóspedes notórios da política gaúcha, como Borges de Medeiros, Getúlio Vargas, Flores da Cunha, Daniel Kriger, Paulo Brossard, entre outros.
Na época da Casa Knoll, as funções dividiam-se em, basicamente, três: a parcela do edifício com acesso pela rua David Canabarro (atual General Canabarro) abrigava o hotel, dirigido para os hóspedes de maior poder econômico; o setor com entrada pelo porão, devido ao desnível da Rua Capitão Eleutério, visava uma clientela de poder aquisitivo mais baixo, sobretudo os soldados que transitavam pela cidade; na esquina localizava-se um comércio de tecidos.
Posicionado na esquina da rua Capitão Eleutério, com a General Canabarro, próximo à estação ferroviária e à atual Avenida Presidente Vargas, o prédio era um ponto chave da vida da cidade, que se movimentava e crescia em decorrência do transporte de pessoas e mercadorias realizado pelo trem. Atualmente, o prédio pertence à iniciativa privada e no local funcionam comércios e casa de eventos.
Igreja Nossa Senhora da Conceição
A Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição está localizada em frente à Praça Tamandaré, no centro da cidade, com a qual compõe um espaço basicamente residencial. O edifício e a praça formam um conjunto definido pelo eixo longitudinal que parte da entrada principal do templo, passa pelo monumento localizado no centro da praça e segue para o extremo norte.
Esta estratégia de desenho urbano e paisagístico tem referências no fórum romano recapitulado posteriormente pelos arquitetos da Roma barroca. Apesar da planta da basílica estar sobre um pódio e com escada frontal, de modo clássico, a torre lateral quebra o padrão e cria um contraponto que marca linguagens mais recentes.
Prédio Texas do Instituto Educacional
A direção do Instituto Educacional (IE) pertenceu à Igreja Metodista do Brasil, que o fundou em março de 1920, sendo seu primeiro diretor o reverendo Jeronymo Daniel. As primeiras aulas foram ministradas num prédio provisódio de madeira. Mais tarde, foi construído o Prédio Texas, destinado à salas de aula. O nome é uma homenagem à universidade norte-americana que financiou a sua construção.
O prédio está localizado na Avenida Brasil Oeste, urbanisticamente privilegiado e localizado na espinha dorsal da trama urbana, próximo a uma das entradas da cidade, é beneficiado pela facilidade de identificação e acesso. Suas características urbanas e arquitetônicas o destacam no seu entorno. Atualmente, o prédio foi adquirido pela Be8, antiga BSBios, e está em processo de restauração, além de receber estudantes do Ensino Fundamental e Ensino Médio.