Com coleções que contam o passado não só da cidade e região, mas também de pessoas que um dia passaram pelo município, o Instituto Histórico de Passo Fundo (IHPF) completou 70 anos de fundação em abril. Apesar da entidade começar seu trabalho em 1954, seu acervo carrega séculos de preservação física e que, a partir de 6 de junho, se perpetuará também em um portal online.
Idealizada pelo jornalista e historiador Jorge Cafruni, a entidade foi criada inicialmente para as comemorações do primeiro centenário de Passo Fundo. O projeto inicial, porém, cresceu e tornou-se referência para o poder público na década de 1960, auxiliando com pareceres históricos sobre espaço e ruas da cidade. Além de documentos, o passar do tempo deu ao instituto novos contornos — inclusive com itens inusitados (veja a lista abaixo).
A partir da década de 1970, a entidade ocupou parte do prédio da Academia Passo-Fundense de Letras e, em 2017, inaugurou sua nova sede, tornando-se referência para a comunidade, que ajuda a nutrir o acervo com doações pessoais e familiares, entre fotografias, documentos, livros e até louças e roupas.
Com a digitalização, o objetivo é que qualquer pessoa de qualquer lugar do mundo possa acessar o acervo, relatou o historiador e presidente do IHPF, Djiovan Carvalho. Ali, será possível conferir os itens distribuídos em coleções da mesma forma que foram entregues ao instituto. Por exemplo, quando pessoas entregam uma caixa de itens pessoais, como livros, fotografias e cartas, o material permanece junto, pois o objetivo é manter a essência original daqueles objetos.
— Há coleções em que não constam somente materiais de Passo Fundo, mas a pessoa tinha uma conexão com a cidade. Sabemos que nossa vida não é limitada a um só espaço, então, se há essa relação com a cidade, entendemos que aqui é um lugar de guarda — disse.
É isso que possibilita que o acervo tenha itens tão diversos e não só sobre referentes à cidade, mas também às pessoas que aqui viveram. Segundo Carvalho, o instituto é um custodiador, uma vez que o acervo não pertence à entidade, mas é cuidado por ela por meio do trabalho de estagiários e voluntários. Os objetos são guardados em condições adequadas, recebem restaurações quando necessário e ficam acessíveis à comunidade.
Essa perspectiva fez com que o IHPF fosse o primeiro gaúcho a se tornar um núcleo do Museu da Pessoa, contribuindo para o reconhecimento e valorização da memória social brasileira. Além disso, em 2023 foi reconhecido pelo Instituto Brasileiro de Museus como um Ponto de Memória.
Entre as milhares de páginas, fotografias e objetos alguns se destacam pela duração e pela curiosidade. Conheça alguns dos itens inusitados a seguir.
Viagem no tempo: itens inusitados do IHPF
Item mais antigo tem 270 anos
O instituto recebeu recentemente aquele que se tornou seu item mais antigo. São as edições três e quatro do jornal português "O Anonymo", de autoria do padre Bento Morganti, que circulou em Lisboa em 1754. São 270 anos de história preservada de maneira quase intacta nas páginas ásperas e amareladas.
Cuia feminina do século 19
Em uma das coleções recebidas pelo instituto, uma cuia de porcelana chama a atenção pelo tamanho, detalhes e por ser bastante diferente das tradicionais. Não é por acaso: o objeto tem formato que lembra uma xícara e foi criado para ser usado especificamente por mulheres. Pertenceu a Maria Do Valle, que viveu entre 1801 e 1874.
Abaixo-assinado contra o Carnaval
Um dos itens mais curiosos do acervo é um abaixo-assinado contra o Carnaval de 1943. Redigido por um grupo de senhoras da elite da época, o documento era endereçado aos presidentes dos clubes Comercial, Caixeiral e Juvenil. Elas pediam que cessassem os "folguedos carnavalescos" até o domingo de Páscoa. Folguedos, neste caso, é a palavra usada para referirem-se aos festejos populares. A justificativa era que as festas não podiam continuar em meio às "guerras" que aconteciam no mundo naquele ano.
Livro Copiador de Ordens e Ofícios
Datado de 1857, o livro mostrava uma Passo Fundo em construção, fundada há apenas 10 anos e ainda no processo da nomeação de ruas. À época, as escritas traziam a oficialização das ruas Paissandú e Moron, nomeadas assim por causa das batalhas, e também das ruas Uruguai e Jacuí (hoje Independência), em homenagem aos rios. Uma transcrição paleográfica do livro foi realizada pelo IHPF a fim de preservar seu conteúdo.
Jornal O Palco
Carvalho classifica o item como um dos mais valiosos sobre a história de Passo Fundo no acervo. O exemplar circulou há 125 anos, em 1899, e é a única edição já encontrada. Na folha, que tinha circulação quinzenal, é possível observar o tom literário da escrita em vez da linguagem jornalística como conhecemos hoje. O verso era reservado para anúncios, onde se vê a propaganda de uma escola, de uma farmácia e de escrivães.
Visite o IHPF
O IHPF é aberto a visitações da comunidade, mas é preciso realizar agendamento para conhecer o acervo. O contato pode ser feito por meio do e-mail ihpf@ihpf.com.br ou número (54) 99202-6854.
- Endereço: Rua Teixeira Soares, 1268 ( acesso pode ser feito pelo Espaço Roseli Doleski Pretto)
- Horário de funcionamento: de segunda a quarta-feira, das 9h às 11h30min e das 13h30min às 17h