A concessionária Rumo, responsável pelas ferrovias do Rio Grande do Sul, demitiu ou realocou 200 funcionários gaúchos depois da enchente de maio. A empresa segue com 450 contratados no Estado.
Conforme o Sindicato dos Ferroviários do RS (Sindifergs), em junho a concessionária informou os funcionários que os estragos eram maiores que o previsto e, a partir disso, ofereceu a realocação nas sedes da Rumo em Santa Catarina, Paraná e São Paulo.
Cerca de 80 funcionários aceitaram a proposta — sendo a maioria maquinistas — e 120 foram desligados. Além disso, outros 130 trabalhadores terceirizados tiveram os contratos rescindidos.
Em Passo Fundo, segundo o sindicato, 12 dos 20 empregados foram demitidos. Por isso há vagões parados no parque férreo da cidade — que, inclusive, registra aumento no preço dos combustíveis pelo fato da logística agora acontecer essencialmente por carretas.
Os trabalhadores que aceitaram a transferência receberam, após negociação sindical, cinco salários, carta fiança de dois anos e estabilidade de um ano. Quem foi demitido recebeu os direitos, além de dois meses a mais de vale alimentação e extensão do plano de saúde por seis meses.
— Tem um jargão na área que é aquilo de "luz no fim do túnel". No nosso caso, não conseguimos ver isso. O Estado está totalmente isolado da malha ferroviária do Brasil: não chega nem sai carga do Rio Grande do Sul desde a enchente — disse o presidente do Sindifergs, João Calegari.
Conforme a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), quatro trechos de ferrovias seguem bloqueados desde maio. São eles:
- Roca Sales — Lages (Tronco Sul)
- Roca Sales — Passo Fundo
- Pátio Industrial — Rio Pardo
- Rio Pardo — Triângulo
O único trecho com conexão é o de Cruz Alta ao Porto de Rio Grande, que passa por Santa Maria e Bagé. A ferrovia é usada para transportar grãos, como soja, trigo e milho.
— O estresse tomou conta. A empresa não removeu um galho de árvore caída nem uma pá de terra, não foi feito nada. Ela simplesmente pegou os funcionários e propôs a transferência ou demissão — afirmou Calegari.
Uma projeção divulgada pela coluna de Jocimar Farina em agosto estima que o investimento para consertar as ferrovias danificadas do RS passe de R$ 3 bilhões. O problema, porém, é que a concessão da Rumo vai até março de 2027.
Pronunciamentos oficiais
Rumo
A empresa informa que mantém um diálogo contínuo com o Governo Federal e demais autoridades competentes para avaliar o cenário atual. Em relação a todos os colaboradores que tiveram as suas atividades interrompidas, foram oferecidas oportunidades de realocação para outras funções e/ou localidades. As propostas foram feitas a fim de preservar a empregabilidade, em condições específicas negociadas em conjunto com o sindicato.
ANTT
A Agência tem monitorado a situação e exigido da concessionária conforme o contrato de concessão e as normas aplicáveis, a recuperação dos danos. No entanto, devido à magnitude dos estragos, os estudos em andamento, ainda não definiram os serviços necessários, os valores envolvidos e os impactos na concessão.
Gabinete do vice-governador do RS
O gabinete do vice-governador tem tratado do tema desde o início do ano. Após as enchentes, já fizemos várias ações:
- série de reuniões solicitando o diagnóstico dos danos nas ferrovias após as enchentes. Até agora a Rumo não nos apresentou e nem enviou um relatório com estes dados para o Estado;
- enviamos um ofício solicitando a inclusão do governo do Estado no Grupo de Trabalho sobre o tema;
- o governo do Estado contratou, via Portos RS, um Estudo de Viabilidade Econômica do modal ferroviário para o escoamento da produção (principalmente de grãos) pelo Porto de Rio Grande. Este estudo deve estar concluído até o final do ano e deve apresentar o quadro geral de investimentos necessários, aumento de capacidade (equipamentos ferroviários) e análise de traçado da rede para tornar o modal competitivo e retirar cargas (desnecessárias) das rodovias.
Para comentários, dúvidas e sugestões de pauta entre em contato através do e-mail julia.possa@gruporbs.com.br.