Uma alternativa que tem ajudado produtores do norte gaúcho a garantir a estabilidade do solo em meio a períodos de estiagem e chuva intensa é a técnica de terraço, estudada e aplicada pela Embrapa Trigo, de Passo Fundo.
Usada há quase 30 anos, a iniciativa evita a erosão ao segurar a água da chuva, o que impede que ela leve o solo e seus nutrientes, um dos problemas mais comuns quando há excesso de chuva. Quando há estiagem, o método fornece mais água às plantas uma vez que o solo absorve a água de precipitações anteriores.
O sistema parece simples: se constrói uma área mais baixa, para armazenar a água, e as bordas mais elevadas ajudam a evitar a erosão do solo. É como se houvesse um "enrugamento" da superfície, antes plana, a fim de que as ondulações retenham a água.
Mas para que isso aconteça da forma correta, é essencial haver pesquisa e planejamento para executar o projeto.
— Tudo é projetado matematicamente e construído com rigor. Não é só achar que vai fazer um camaleão na lavoura: tem toda uma tecnologia para ser construída — explica José Denardin, pesquisador da Embrapa e especialista em solos e hidrologia.
A vantagem é que, com o passar dos anos, os produtores conseguem reduzir as adubações, uma vez que os nutrientes da terra não são levados pela chuva.
— Como a água não leva os nutrientes e eles permanecem no solo, as adubações caem em torno de 30% a 40%. Esse custo de produção é um valor altamente expressivo em termos de economia e de renda do produtor rural — afirmou Denardin.
É o caso de uma propriedade na região de Pontão, no norte gaúcho, onde há técnica de terraço há 27 anos. A lavoura conseguiu manter uma boa produção desde o início, apesar das estiagens severas que atingiram o RS nos últimos anos.
— Eles nunca colheram menos de 38 sacas por hectare, enquanto nós tivemos no Estado cinco (sacas por hectare), por exemplo. Não é que vai aumentar a produtividade, mas vai estabilizar, reduzir as perdas e amenizar os danos, seja pela estiagem ou pela erosão quando ocorrem chuvas intensas — explicou o especialista.
Comprovação na prática
Quem percebeu os benefícios da técnica na prática foi o produtor Antoli Faucci Mello, que tem propriedade em Coxilha, a cerca de 20 quilômetros de Passo Fundo. Há cinco anos, o produtor teve perdas na lavoura por conta de erosão em época de chuvas.
— Tivemos uma plantação de trigo num terreno muito íngreme, que teve erosão laminar em dois anos seguidos. Levou completamente a terra onde a semeadeira mexeu para a baixada — conta.
Diante da perda, ele buscou uma alternativa que permitisse interromper as perdas por erosão e encontrou a solução do terraço.
Ao longo dos últimos cinco anos, ele trabalhou na implementação da tecnologia e, em 2024 concluiu a instalação em toda a propriedade. E já evitou perdas nas chuvas intensas que atingiram o Rio Grande do Sul na metade do ano.
— Em um dia ou dois chegou a chover mais de 100 milímetros e os terraços seguraram a terra — comprovou.