Mesmo não tendo sido atingido pelo excesso de chuva do mês de maio como outras regiões gaúchas, o norte do Rio Grande do Sul registrou perdas de solo em pelo menos 42 municípios no entorno de Passo Fundo. Conforme a Emater-RS/Ascar, não há um número preciso sobre quantas propriedades registraram danos na região, mas é possível identificar que a maioria dos municípios teve problemas de perda de solo através da erosão hídrica, ou seja, o escorrimento superficial da água da chuva.
Assim como a estiagem, o excesso de água no solo pode ser prejudicial à atividade agrícola. A erosão e a enxurrada tendem a levar à perda de nutrientes da camada mais superficial do solo, como o fósforo e o potássio, utilizados pelas plantas para a sua nutrição e que se concentram nas águas da enxurrada.
— Há ainda outras perdas de partículas minerais do solo como a argila e o silte, além da matéria orgânica, que remove a camada superficial do solo expondo as camadas mais profundas. Essas, em geral, são mais ácidas e pobres em matéria orgânica e em nutrientes, portanto, são menos férteis. Quando isto ocorre, o solo deve ser recuperado física, química e biologicamente — explicou Pedro Escosteguy, diretor do Núcleo Regional Sul da Sociedade Brasileira de Ciência do Solo.
Uma análise da Emater identificou que, na região, o maior problema de erosão aconteceu onde o solo estava mais compactado e sem cobertura vegetal, o que não permite o desenvolvimento de raízes ou a infiltração da água da chuva na terra. A consequência é o escorrimento de água ou erosões, fenômenos muito comuns e visíveis nas lavouras.
É o caso da propriedade familiar de Augusto Escobar, próxima ao Parque da Roselândia, em Passo Fundo. A terra recém-colhida aguardava a plantação de nabo forrageiro, cultivar que produz raízes e auxilia na estruturação do solo, além de melhorar a capacidade de infiltração da água da chuva. Com a chuva, não foi possível colocar as máquinas no solo, e a erosão provocou sulcos profundos na terra.
— A gente estima pelo menos cinco anos para recuperar a terra totalmente. Como não conseguimos entrar na lavoura no tempo ideal, agora vamos esperar firmar o tempo para dar início no plantio de trigo — disse o produtor.
Conforme a engenheira agrônoma Joana Hanauer, que acompanhou o caso, o produtor precisará corrigir o pH, o fósforo e potássio do solo. A orientação, agora, é utilizar práticas de conservação do solo para garantir a manutenção da fertilidade e construção de um perfil de solo adequado.
— As quantidades (de insumos para corrigir o solo) poderão ser aplicadas em uma única parcela, mas a cada dois anos é necessário refazer essa análise para nova verificação e ajustes da recomendação de acordo com as exigências das culturas implantadas — orientou Joana.
Cobertura vegetal é solução
Uma forma de evitar grandes danos por erosão é manter a terra com cobertura vegetal. Conforme a Emater, a expectativa de plantação anual das culturas de inverno, como trigo e aveia, gira em torno de 200 mil hectares nos 42 municípios atendidos pela Emater de Passo Fundo. O número é bem menor na comparação com os 700 mil hectares ocupados com milho e soja no verão.
— Precisamos ampliar mais essa área com cobertura, especificamente para proteger o solo e funcionar também como uma espécie de estruturação com raízes e também a produção de palha, para o plantio direto, que irá se transforma em material orgânico — explica Oriberto Adami, supervisor regional e responsável pela área de solos da Emater na região de Passo Fundo.
Além disso, o tratamento com matéria orgânica para regenerar o solo após a erosão é essencial. No processo podem ser usadas raízes, resíduos culturais e fertilizantes orgânicos, por exemplo.
Essa decisão, porém, depende do diagnóstico de uma assistência técnica agronômica: segundo Escosteguy, depois da erosão o solo deve ser analisado em laboratório para determinar a necessidade e a quantidade de fertilizantes, orgânicos, minerais e calcários para repor os nutrientes e atender a demandas das plantas, além de corrigir a acidez do solo.