O atentado frustrado contra o Supremo Tribunal Federal (STF), na noite desta quarta-feira, em Brasília, é mais um episódio a demonstrar as consequências nefastas da radicalização política e ideológica no Brasil. Passa da hora de dar um basta na incitação constante e irresponsável à divisão da sociedade. O homem que tentou o ataque, Francisco Wanderley Luiz, 59 anos, ex-candidato a vereador pelo PL em Rio do Sul (SC), acabou morrendo devido à explosão de artefatos que carregava.
O caso se soma a diversos outros de elevada gravidade, como a depredação de cunho golpista do 8 de janeiro de 2023
O caso se soma a diversos outros de elevada gravidade, como a depredação de cunho golpista do 8 de janeiro de 2023, perpetrada por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro, e os atos violentos que ocorreram na capital federal semanas antes e incluíram o planejamento para detonar um caminhão de combustíveis no aeroporto local, em uma ação insana voltada a anular a eleição presidencial. Também entra nessa lista a tentativa de um militante do PSOL com doença mental de assassinar o próprio Bolsonaro, então candidato ao Planalto, durante a campanha eleitoral, em setembro de 2018.
Lideranças políticas do país, parlamentares que costumam ser estridentes e virulentos nas redes sociais e suas siglas precisam compreender a necessidade de moderar a retórica para evitar novas tragédias e o Brasil começar a rumar para a pacificação. São bem identificadas as figuras públicas que fazem da instigação a principal estratégia para angariar engajamento e votos. A história recente demonstra que os discursos de ódio contra instituições e indivíduos e de desumanização de adversários e seus partidários, repetidos à exaustão, não ficam limitados às palavras. Pelo contrário. Não raro, geram violência, atitudes tresloucadas e mortes.
A política deve ser o espaço do confronto apenas de ideias e argumentos de forma civilizada e de resolução de diferenças de maneira pacífica. Findada a eleição, os vencedores assumem seus cargos e os derrotados se organizam para o próximo pleito. A democracia comporta o debate em termos duros. Faz parte da disputa partidária pelo convencimento do eleitor. A questão, porém, é que discursos agressivos reiterados e teorias conspiratórias de toda ordem, disseminados com maior facilidade pelas redes sociais devido à moderação frouxa e a algoritmos que promovem conteúdos de impacto, têm levado a atos desatinados. É como um envenenamento em pequenas doses, administradas ao longo do tempo. Ao que parece, é o caso do homem que tentou atacar o STF na noite de quarta-feira. Em suas redes e aplicativos de mensagens, repetia mantras da extrema direita e praguejava contra políticos e instituições.
A barbárie não pode ser tolerada. O acontecimento desta quarta-feira, em Brasília, mostra ainda a inadequação da proposta que tramita no Congresso de anistiar os envolvidos no ataque às sedes dos Três Poderes, em janeiro de 2023, a mais séria investida contra a democracia brasileira em quase cinco décadas. A impunidade tende a ser um incentivo a novas tentativas. O atentado desta semana deve ser exaustivamente investigado, assim como todos os demais episódios que colocaram em risco as instituições brasileiras e o Estado democrático de direito.