O Brasil chega ao 7 de Setembro de 2024, nas celebrações de 202 anos de independência, com dois de seus mais importantes desafios mostrando-se de forma explícita nesta exata data. Resta claro que, a despeito da consciência de parcela da sociedade quanto aos malefícios presentes e riscos no futuro, pouco de efetivo é feito para verdadeiramente superá-los.
Os desafios são superar a extrema cisão social e construir consensos para preparar o país ante os extremos do clima
Um deles é a crise climática, que emerge em fúria, antecipando cenários previstos pela ciência para algumas décadas adiante. O país arde em chamas pelas queimadas. A proliferação do fogo, em alguns casos por mãos criminosas, é facilitada pela maior seca já registrada, conforme atesta o Centro Nacional de Monitoramento de Desastres Naturais (Cemaden). A fumaça cobre vários Estados e traz danos à saúde. O longo estio prenuncia dificuldades na produção de alimentos e de energia, com reflexos na economia e na inflação.
Ao mesmo tempo, o desfile cívico-militar, neste sábado, em Brasília, reverenciará os esforços em torno do apoio ao Rio Grande do Sul após a mais destruidora tragédia climática vivida pelo país, só que causada pelo outro extremo, o de excesso de chuva. O governador Eduardo Leite estará em Brasília para o evento. Helicópteros do Exército estarão ausentes da parada. Estarão em missão, combatendo incêndios.
Em outra dimensão, o país segue longe da pacificação, como ilustra a manifestação deste sábado convocada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro e apoiadores em São Paulo, pelo impeachment do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. Protestos de rua ordeiros, excluindo-se eventuais incitações a rupturas, são parte da democracia. Mas o ato é sintoma a evidenciar que segue em brasas a polarização política, o mal-estar entre poderes e a desconfiança de camadas da sociedade com as instituições.
Os grandes desafios diante do Brasil, em nome do desenvolvimento sustentável e do apaziguamento, são superar a extrema cisão social e os danos no convívio civilizado entre os cidadãos e construir consensos e iniciativas práticas para melhor preparar o país na prevenção e no combate aos extremos do clima. Em ambos os aspectos está presente a constatação de que resignar-se com os fenômenos de mais alto grau de virulência é uma omissão que a geração atual não pode legar para as vindouras. É vital recuperar o respeito e a confiança entre os indivíduos e destes para com as instituições da República, que precisam ser fortalecidas para bem exercerem o papel de esteio da democracia, a serviço de todos os brasileiros.
Divisões ideológicas profundas, enxurradas e ondas de temperaturas escaldantes são uma realidade global, é verdade. Mas o país, pelo histórico de tolerância da população e pelos ativos ambientais únicos, tem condições plenas de converter-se em um farol a iluminar o caminho para um futuro de transigência em relação às diferenças de pensamento e de transição para uma economia mais verde, a fim de evitar que o planeta se torne um lugar tão hostil quanto se teme neste momento. Cabe à sociedade demonstrar, com genuíno patriotismo, disposição para responder a este repto e cumprir o destino assinalado em trecho do Hino da Independência que sentencia que “do universo entre as nações/resplandece a do Brasil”.