A veia empreendedora e o sentimento de comunidade são características conhecidas dos gaúchos. Donos de pequenos negócios são habituados a enfrentar percalços na luta para manter as portas abertas e prosperar. No interior gaúcho, feiras, festas e exposições costumam reforçar laços da coletividade e servem para movimentar a economia local. Esses dois traços próprios do Estado se somam no processo de reerguimento do Rio Grande do Sul.
Não esmorecer diante das dificuldades é um comportamento inato do empreendedor. É o que fazem, neste momento, os empresários do polo cervejeiro do 4º Distrito da Capital, uma das regiões de Porto Alegre mais atingidas pelos alagamentos de dois meses atrás. O esforço para recolocar de pé os negócios foi mostrado na superedição de ZH. A região, que há não muito tempo vivia um processo de degradação, foi revigorada nos últimos anos por iniciativas como as pequenas cervejarias, associadas a empreendimentos culturais e de gastronomia. Soma-se a isso, claro, o fato de ter se tornado sede de inúmeras iniciativas voltadas a promover a inovação.
O restabelecimento pleno passa pela retomada de cada localidade afetada e de todo arranjo produtivo local atingido
Os eventos espalhados pelo Interior também são parte essencial da recuperação da economia e da autoestima da população gaúcha. As festividades servem para a comercialização de produtos locais, para promover o turismo e a cultura regional e movimentar o comércio e o setor de serviços de cidades pequenas e médias. Outra reportagem publicada na edição de fim de semana de ZH enumera pelo menos 57 eventos do gênero no Rio Grande do Sul até dezembro, de grandes a pequenos. Desde a portentosa Expointer, em Esteio, uma das principais mostras agropecuárias do continente, até a Feira do Mel, Rosca e Nata, em Ivoti, que se encerrou ontem e é de grande importância para a renda dos apicultores do município do Vale do Sinos.
A reabilitação econômica e da confiança no futuro dos gaúchos das regiões mais castigadas pelos eventos extremos que se abateram sobre o Rio Grande do Sul desde o ano passado não depende apenas de grandes obras e de bilhões de reais em investimentos. O restabelecimento pleno passa pela retomada de cada localidade afetada e de todo arranjo produtivo local atingido, por menores que sejam. Muito da riqueza e da pujança do Estado provém dos pequenos produtores, das agroindústrias familiares, dos microempreendedores e das fábricas de escala reduzida, interligados aos demais elos da economia.
Nesta fase, o apoio governamental, como o do Executivo federal, dono do maior orçamento, é decisivo. A Secretaria Estadual de Turismo, por exemplo, pleiteia repasse de R$ 90 milhões para auxiliar na promoção de destinos. Os gargalos de infraestrutura, como o aeroporto Salgado Filho sem voos, dificultam a vinda de visitantes de fora do Rio Grande do Sul. Mas a própria população gaúcha, neste momento, pode dar uma contribuição significativa aos empreendedores afetados direta ou indiretamente pela enchente. Frequentando estabelecimentos locais, adquirindo produtos fabricados no Estado, fazendo turismo interno e prestigiando as festividades promovidas no Interior.