A tenacidade dos gaúchos, colocada à prova com a destruição provocada pela enchente histórica, terá de ser redobrada na área da educação. Aos prejuízos à aprendizagem ocasionados pela pandemia se soma agora o transtorno de um grande número de escolas – privadas e das redes municipais e do Estado – danificadas pelas cheias. Outras, solidárias, ainda estão servindo de abrigo para os atingidos que tiveram de abandonar as suas casas e, apenas aos poucos, começam a retomar a rotina.
O grande desafio será a disponibilidade de recursos e a agilidade necessária para repor equipamentos e mobiliário, permitindo o retorno às aulas
É verdade que nem todas as regiões gaúchas foram castigadas pelos efeitos da chuvarada e da calamidade instalada. Mas é bastante significativo, em áreas densamente povoadas, o número de educandários que sofreram danos severos. Basta observar o dado referente à rede estadual. Um em cada quatro estudantes dos colégios sob gestão do governo gaúcho, até ontem, não tinha previsão de volta para as salas de aula. São 178 mil alunos. Mais de mil escolas, cerca de metade da rede, enfrentam algum percalço para retomar as aulas. Se não tiveram estragos, servem de abrigo ou têm problemas de acesso, entre outros contratempos.
Nas escolas administradas pelas prefeituras, mostrou levantamento da União dos Dirigentes Municipais de Educação do RS, 843 sofreram algum dano, número que representa 22% do total. Entre as instituições privadas, 26 estabelecimentos, com 11 mil alunos matriculados, tiveram avaria. Ademais, os transtornos causados pelas inundações, como o corte de acessos e a derrubada de estradas e pontes, dificultam a chegada de professores, funcionários e estudantes. Há ainda quem enfrente o trauma da casa arrasada ou arrastada pela torrente.
O grande desafio, em especial na rede pública, será a disponibilidade de recursos e a agilidade necessária para repor equipamentos e mobiliário, permitindo o retorno às aulas. Assim como na área da infraestrutura, a burocracia terá de ser amenizada, sob pena de milhares de crianças e jovens permanecerem por um período demasiadamente longo afastados das salas de aula.
A exemplo do que ocorreu na pandemia, gestores públicos, professores e sociedade civil terão de lançar um olhar especial para que os possíveis prejuízos ao ensino sejam minimizados. Antes mesmo da crise sanitária, a educação gaúcha já perdia terreno em comparação com outros Estados. As consequências da enchente aumentam os esforços necessários em frentes como a pedagógica, a de instalações e as voltadas a mitigar o risco de evasão.
A União, ente com maior disponibilidade de recursos, tem o dever de não faltar com o Rio Grande do Sul neste momento de grande incerteza. O Ministério da Educação agiu certo ao flexibilizar o calendário escolar para o Estado devido à tragédia climática, mas pode fazer bem mais. A pasta promete amparo financeiro às instituições atingidas por meio do Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE), voltado à melhoria da infraestrutura física e pedagógica, e do Plano de Ações Articuladas (PAR), de assistência técnica e financeira. É imperioso que o protocolo de atendimento emergencial criado pelo MEC para acelerar os trâmites para os repasses funcione de fato.