O desastre climático que se abate sobre o Rio Grande do Sul está impondo desafios sem precedentes para os administradores públicos dos municípios atingidos pelas cheias e também para os poucos que não foram afetados diretamente pela enxurrada. Os primeiros, especialmente os prefeitos de cidades devastadas pela água, devem ter como prioridades salvar os munícipes ameaçados, acolher os desabrigados e assegurar o funcionamento de serviços básicos, para só então começarem a pensar na reconstrução. Será uma tarefa igualmente árdua. Há casos, inclusive, de comunidades inteiras que precisarão ser realocadas para outras áreas dos municípios. Dos demais gestores, os de áreas livres da inundação, o que se espera é que sejam solidários, auxiliem os vizinhos necessitados, cuidem de suas populações e, principalmente, que não tentem tirar vantagem da desgraça alheia.
Espera-se que os órgãos oficiais de controle e as forças de segurança do Estado e do país reforcem a vigilância sobre espertalhões que procuram se aproveitar da adversidade coletiva para obter vantagens pessoais
O episódio envolvendo a prefeitura de Imbé, no litoral norte do Estado, acendeu o sinal de alerta. Por equívoco ou má-fé (o que já está sendo devidamente apurado pelos órgãos fiscalizadores), o prefeito local decretou calamidade pública sob o pretexto de que seu município não tem estrutura suficiente para atender o público que para lá se deslocou para se refugiar da enchente. O problema é real, pois os serviços de saúde, abastecimento e alimentação ficam sobrecarregados com a chegada repentina de um grande número de pessoas a uma cidade pequena. É o que sempre ocorre com os balneários em períodos de veraneio. A diferença, agora, é que foi imprevisto. Ainda assim, é uma situação de rotina para a prefeitura administrar, não pode ser considerada uma calamidade. Tanto que o próprio prefeito tratou de revogar o decreto em decorrência da repercussão e das críticas. Ainda assim, age com presteza o Ministério Público do Rio Grande do Sul ao anunciar uma investigação rigorosa de decretos semelhantes que estão sendo emitidos pelas prefeituras gaúchas para receber recursos estaduais e federais com maior celeridade. Embora caiba aos governos estadual e federal avaliar a pertinência e a legitimidade de cada pedido, há uma tendência de flexibilização num momento de comoção como o atual. Por isso, é importante que eventuais brechas para o oportunismo sejam fechadas.
Da mesma forma, espera-se que os órgãos oficiais de controle e as forças de segurança do Estado e do país reforcem a vigilância sobre espertalhões que procuram se aproveitar da adversidade coletiva para obter vantagens pessoais. Esse grupo de delinquentes oportunistas, que inclui criminosos comuns, golpistas e mercadores mal-intencionados, constitui um contraponto repugnante à imensa onda de solidariedade que se formou em torno do Rio Grande do Sul.
Por isso, a vigilância das autoridades e a ação punitiva se tornam necessárias mesmo quando todos os setores da sociedade deveriam estar concentrados na preservação de vidas. Como bem sabem os agricultores deste Estado produtor de alimentos, não se pode deixar que algumas laranjas podres contaminem o cesto inteiro.