Cerca de 870 locais, como escolas, universidades, clubes esportivos, ginásios municipais, CTGs, igrejas e centros comunitários do Estado, abriram suas portas nas últimas semanas para receber dezenas de milhares de desabrigados das enchentes no Rio Grande do Sul. Quase 80 mil pessoas, em 103 municípios, buscaram abrigo emergencialmente nesses pontos improvisados após terem de sair de suas casas, tomadas pelo avanço das águas ou destruídas pela força da correnteza. O acolhimento mobilizou um grande contingente de voluntários que, ao lado da Defesa Civil, se esforçou ao máximo para garantir alimentação, proteção do frio, roupas, atendimento de saúde e mínimas condições de higiene a esse grande número de gaúchos. A despeito da comovente corrente de solidariedade, é uma mobilização difícil de ser mantida por muito mais tempo.
Ainda será significativo o número de pessoas que continuarão dependendo de abrigo até conquistarem uma solução habitacional definitiva
Muitos desses locais, como as escolas, têm de voltar a suas rotinas. Ao mesmo tempo, é natural o movimento de refluxo de voluntários, que necessitam retornar a seus afazeres. Muitos vieram de outros Estados. Além disso, onde as águas começam a baixar, se inicia a etapa de limpeza das residências que restaram de pé, o que permite o retorno para casa. Mesmo assim, ainda será significativo o número de pessoas que continuarão dependendo de abrigo até conquistarem uma solução habitacional definitiva. Em meados de junho, aproximadamente 10 mil pessoas estarão nesta condição precária, estima o governo gaúcho.
Nesse contexto, faz sentido a intenção do Executivo estadual de montar quatro “cidades temporárias” na Região Metropolitana _ em Porto Alegre, Guaíba, Canoas e São Leopoldo, municípios onde hoje estão cerca de 70% dos desabrigados. A promessa do Piratini, sob a coordenação do vice-governador, Gabriel Souza, é erguer estruturas que assegurem uma permanência minimamente apropriada para os gaúchos flagelados que ainda vão necessitar de um teto temporário por um tempo incerto.
A intenção é assegurar alguma privacidade às famílias nesses locais de convivência, que contarão com dormitórios com divisórias, banheiros, cozinha coletiva, lavanderia, atividades e áreas de lazer para crianças e espaços inclusive para os animais de estimação. Serviços básicos de educação, saneamento, saúde e segurança também são imprescindíveis, e é compromisso fornecê-los. Segundo o governo, o contrato com o fornecedor das estruturas deve ser assinado nesta semana. Após este ato, os trabalhos poderiam ser iniciados em cerca de cinco dias e montagem demoraria entre duas e três semanas. Não é nada imediato, portanto. Mas espera-se que não atrase muito mais do que este prazo. Ao mesmo tempo, será preciso manter acesa a chama de solidariedade que garante os donativos aos desabrigados, ainda na casa dos milhares.
O próximo passo será acelerar outras políticas de moradia definitiva, algo sempre mais lento devido às etapas que necessitam ser vencidas. Mesmo imprimindo-se velocidade inédita, unidades habitacionais levam alguns meses para serem concluídas. Serve de exemplo o caso do Vale do Taquari. O próprio governo do Estado conseguiu entregar as primeiras casas temporárias apenas em abril, sete meses após a enxurrada de setembro do ano passado. A opção do aluguel social muitas vezes esbarra na pouca oferta de imóveis. Na região, os projetos do Minha Casa Minha Vida, do governo federal, também avançam lentamente pela burocracia. Quem perdeu a casa, portanto, ainda terá uma longa espera. Que ao menos, após os traumas vividos, tenham dignidade enquanto aguardam.