Deve apressar-se o governo gaúcho para apresentar e implementar um plano de contingência capaz de contornar a crise instalada na área da saúde na Região Metropolitana e em outros municípios próximos. A situação está levando a uma superlotação de emergências de hospitais e Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) em Porto Alegre. Em alguns pontos, a procura nos últimos dias é mais do que o dobro da capacidade.
Espera-se da gestão Eduardo Leite agilidade para encontrar uma solução e oferecer uma resposta à população
O quadro acarreta grande demora no atendimento a pacientes e até o risco de não receberem a devida assistência. Espera-se da gestão Eduardo Leite agilidade para encontrar uma solução e oferecer uma resposta à população dependente do Sistema Único de Saúde (SUS) que busca cuidados médicos ou necessita de procedimentos urgentes e corre o risco de permanecer desassistida ou ser submetida a peregrinações exaustivas. Trata-se de um direito básico e cabe ao poder público provê-lo.
Trocas de gestão conturbadas, greves de servidores e suspensões de atendimentos são as causas que levaram a paralisação ou maior espera para atendimentos em hospitais de Alvorada, Cachoeirinha e Tramandaí. Em ofício enviado ao Piratini, o Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul (Cremers) também alerta para restrições nos serviços ou em determinadas especialidades em Canoas, São Leopoldo e Gravataí. Até mesmo a insegurança da população, com dúvidas sobre se terá ou não acolhimento em suas cidades, faz com que muitas pessoas optem por se deslocar para Porto Alegre, sobrecarregando a estrutura de saúde da Capital.
Em Alvorada, houve na segunda-feira uma tumultuada troca de gestão do hospital local ocasionada pelas dificuldades financeiras da gestora, a Fundação Universitária de Cardiologia (FUC), substituída pela Associação Beneficente João Paulo II. A FUC também não estaria pagando as rescisões contratuais de funcionários do Hospital Padre Jeremias, de Cachoeirinha, o que levou servidores a cruzarem os braços. A transição em Cachoeirinha para uma nova gestão ocorrerá na segunda-feira e aguarda-se que a promessa da Secretaria Estadual da Saúde (SES) de uma passagem de bastão sem contratempos se confirme. Também há incerteza quanto à manutenção dos serviços de urgência, emergência e saúde mental do Hospital Viamão, outro hoje administrado pela FUC.
É anunciada para hoje uma reunião dos gestores da área da saúde da Capital com o governo gaúcho para tratar de soluções para a crise na Região Metropolitana. Aguarda-se um diálogo produtivo, que leve à diminuição da superlotação em Porto Alegre e também a tratativas com as demais prefeituras, gestoras e entidades profissionais para o restabelecimento do atendimento nos outros municípios em dificuldades, com a redistribuição de pacientes.
Além de todas as dificuldades naturalmente causadas pelo deslocamento abrupto da demanda para a Capital, deve-se lembrar que há ainda uma pressão maior na rede devido ao surto de dengue de proporções alarmantes no Rio Grande do Sul. Como está inscrito na Constituição, a saúde é direito de todos e um dever do poder público. Do Estado não se espera nada além do cumprimento de suas obrigações, com celeridade, transparência e organização para que tribulações semelhantes não se repitam.