Por Cleiton Freitas, delegado da 18ª Delegacia de Polícia de Porto Alegre
Falar acerca do assunto suicídio é difícil, dentro das instituições de segurança pública, mais ainda. É quase um tabu, pelo assombro misterioso causado diante de alguém que atenta contra si próprio, causando a cisão de si. Talvez devido ao fato de portarmos armas ou de nos acostumarmos a enfrentar o perigo e as mazelas humanas cotidianamente, permeados que somos de narrativas sobre o “heroísmo” de nossa atividade.
Temos que reconhecer nossos limites e nossas necessidades de cuidados com a saúde mental
Fato é que a taxa de suicídios de policiais é quase oito vezes maior do que a da população em geral. Só esta constatação já é algo que deveria gerar alerta em todos, em especial nos gestores dessas instituições.
As características da nossa profissão contribuem para isso: maioria de homens, mais relutantes em procurar ajuda; cobrança social e das instituições policiais diante da demanda insuperável, estresse, convívio com o perigo. E, principalmente, a cultura masculinista, hegemônica nas polícias, na qual força, honra, destemor e hombridade são valores que permeiam nossas identidades funcionais, dificultando mais ainda qualquer movimento em busca de apoio, acompanhamento, tratamento ou ajuda.
Temos que reconhecer nossos limites e nossas necessidades de cuidados com a saúde mental. Atenção aos sinais que nosso corpo oferece: desconfortos, dificuldade para dormir, de concentração, intolerâncias, apatias, abuso de álcool ou drogas. Tudo isso indica a necessidade de buscar ajuda.
Meu apelo é aos gestores das polícias para que cuidemos do nosso maior patrimônio: nossos servidores e servidoras policiais. Sem estes preservados, não há estratégia ou tecnologia que funcione no combate à criminalidade. Cuidar dos cuidadores, reforçar o trabalho das equipes de saúde com visitas às delegacias para avaliações, organizar palestras, o envolvimento da Acadepol durante a formação dos novatos, desenvolver campanhas junto aos sindicatos e às associações sobre a saúde mental.
A polícia não pode fingir ou esconder o que está acontecendo.
Nós ganhamos com isso.
A sociedade ganha com isso.