Por Roberta de Oliveira, psicóloga da Spaan
Em muitas partes do mundo, os idosos têm uma taxa de suicídio mais alta do que outros grupos etários, e isso pode ocorrer devido a fatores como solidão, falta de apoio familiar e problemas de saúde, por exemplo. Essa constatação da Organização Mundial da Saúde (OMS) foi potencialmente evidenciada no período crítico do distanciamento social recomendado durante a pandemia de covid-19. Cuidar da saúde mental dos idosos se tornou algo ainda mais urgente, principalmente por conta da pouca atenção recebida por parte do poder público e de tantas outras esferas da sociedade.
Um exemplo dessa omissão é claramente observado nas ações da campanha Setembro Amarelo, em que o foco é a conscientização sobre a prevenção do suicídio. Quantos idosos estampando materiais gráficos você visualiza? Quantos mutirões de saúde mental são feitos com o objetivo de atender e orientar pessoas mais velhas?
Dizer que estão na “melhor idade” é mais uma forma de inviabilizar o sofrimento psíquico dos mais velhos
Ninguém quer acreditar que um idoso sofre. Infantilizar o idoso, além de duvidar de suas capacidades, ainda cria o estereótipo do vovô fofo, feliz, adorável e cheio de carinho para dar. Dizer que estão na “melhor idade” é mais uma forma de inviabilizar o sofrimento psíquico dos mais velhos.
Diante da possibilidade de uma tentativa de suicídio é preciso acolher. Contudo, precisamos ser capazes de identificar os riscos que levam a esses sentimentos. E, para isso, acompanhar de forma constante o idoso que sofre é muito importante. Além disso, precisamos dar visibilidade ao assunto, debater em ambientes familiares, corporativos, incluindo a divulgação na grande mídia, de forma ética e respeitosa, mostrar quais são as causas e os fatores que levam um idoso ao suicídio, sem tabus. Cobrar do poder público a realização de capacitações frequentes voltadas aos profissionais de saúde, da assistência social, não apenas os que trabalham com saúde mental, não é papel exclusivo das redes de apoio social, é algo que pode – e deve – ser feito por toda a sociedade.