O descarte e a coleta de lixo, assim como todo o gerenciamento de resíduos sólidos, são desafios que ainda esperam melhores respostas das cidades, em especial as médias e grandes. Trata-se de um problema complexo, a ser enfrentado em múltiplas dimensões. No caso particular de Porto Alegre, tornaram-se recorrentes as queixas da população quanto às falhas no recolhimento dos rejeitos orgânicos nos contêineres destinados exclusivamente a esse tipo de matéria. Caxias do Sul enfrenta um debate semelhante. Sem perspectivas concretas de melhora no serviço, a prefeitura da Capital decidiu romper o contrato com o consórcio responsável pela coleta mecanizada, contratado após vencer licitação em fevereiro do ano passado.
Era esperado que o acúmulo de sujeira pelas ruas de Porto Alegre gerasse uma iniciativa mais drástica
Era esperado que o acúmulo de sujeira pelas ruas de Porto Alegre, motivo de reiterada insatisfação dos cidadãos, gerasse uma iniciativa mais drástica por parte do poder público. É possível questionar, inclusive, se a prefeitura não tardou em uma postura mais dura. A coleta mecanizada está hoje presente em 20% da área da cidade. Agora, o município promete uma nova concorrência, com a promessa de qualificar o processo.
Deve-se reconhecer, no entanto, que o tema do lixo é um problema histórico nos centros urbanos. Mas ter ruas mais limpas não se resume a assegurar um serviço eficiente de coleta. A educação é um ponto de partida. Uma parte da própria população muitas vezes contribui de forma negativa, com o descarte inadequado. É o caso dos contêineres exclusivos para orgânicos, que acabam recebendo também materiais recicláveis. Há ainda a questão social. Tornou-se infelizmente cena corriqueira pessoas em situação de rua revirando os compartimentos em busca de alimentos. Em outros casos, catando itens para revenda.
É uma situação que acaba também prejudicando o processo de coleta seletiva organizado, voltado a dar destinação correta a resíduos. Metais, plásticos e papéis direcionados para reaproveitamento beneficiam a economia circular e as cooperativas de trabalhadores que geram renda com triagem. Há dois anos, Zero Hora trouxe a informação de que, entre 2015 e 2021, a Capital reduziu em um terço o volume de lixo reciclado. Uma das causas apontadas foi a menor disposição da população de separar o material que pode ser reutilizado.
O lixo que transborda de contêineres, a sujeira espalhada nas ruas e o descarte irregular são incômodos também para a população de Caxias do Sul. Em junho, o jornal Pioneiro fez reportagens mostrando um quadro não muito diferente do de Porto Alegre. A cidade da Serra já foi reconhecida como uma das mais limpas do país, modelar e pioneira em termos de coleta seletiva, uso de contêineres e recolhimento mecanizado dos resíduos entre municípios com mais de 250 mil habitantes. No caso caxiense, há ainda o agravante das dificuldades financeiras da Companhia de Desenvolvimento de Caxias do Sul (Codeca), autarquia responsável pelo serviço. Na cidade, existem contêineres separados para lixo orgânico e recicláveis, mas os equipamentos também vinham sendo alvo de vandalismo. Outro problema é a proliferação de lixões clandestinos. Ou seja, torna-se um problema ambiental também. Nas ruas, o lixo entope bocas de lobo e contribui para alagamentos, ainda mais em períodos chuvosos como o atual.
Em Porto Alegre, por coincidência, está em andamento uma consulta pública online para a revisão do Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos. É possível participar até amanhã, opinando sobre tópicos como limpeza urbana, reciclagem, metas de redução de envio de rejeitos ao aterro sanitário. As soluções também passam pela população.