Luiz Inácio Lula da Silva cumpre hoje a tradição reservada desde 1955 ao presidente brasileiro de discursar na abertura da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU). O tema das mudanças climáticas e da necessidade de acelerar a transição energética tende a ser um dos tópicos mais destacados do pronunciamento. Essa é a pauta que mais desperta a atenção do mundo em relação ao Brasil. É a área, portanto, em que o país tem no momento o maior potencial de tirar proveito econômico.
País reúne todas as condições de ser protagonista global em uma nova economia de baixo carbono, com geração de emprego e renda
A comitiva que acompanha Lula e as agendas paralelas ao encontro na ONU indicam a compreensão de que há uma oportunidade histórica a ser aproveitada. A programação empresarial, de representantes do terceiro setor, de membros do governo e de lideranças do Congresso reserva atenção especial às questões ambientais e de investimentos voltados à sustentabilidade. Entre os principais assuntos está o lançamento pelo Brasil dos chamados green bonds, títulos públicos voltados a financiar projetos com pegada verde, oferecidos a aplicadores internacionais. Estima-se que, na primeira emissão, a ser concluída até novembro, seja possível captar mais de US$ 2 bilhões.
Integrante do séquito, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, também utiliza a viagem para apresentar a investidores o Plano de Transformação Ecológica, iniciativa gestada na pasta que abrange frentes como a regulação do mercado de créditos de carbono, a produção de combustíveis de forma mais limpa, parques eólicos offshore e outros programas com elevado potencial de atrair capitais para o Brasil, nação que reúne todas as condições de ser protagonista global em uma nova economia de baixo carbono, com geração de emprego e renda.
Esta deve ser a agenda prioritária para o país, junto à estabilidade macroeconômica. Há um ganho duplo. De um lado, recursos do Exterior chegam para ajudar na preservação dos principais biomas, como a Amazônia, região vital para evitar transtornos climáticos ainda maiores, com reflexos inclusive para o Rio Grande do Sul. A floresta em pé é essencial para o regime de chuvas e para manter a elevada produtividade do agronegócio nacional. O outro aspecto é o de alavancagem de setores florescentes da economia, com atração de investimentos produtivos diretos em projetos ligados à sustentabilidade. São áreas que demandam o desenvolvimento de novas tecnologias e de inovação. Abrem também, assim, a possibilidade de incentivo à produção científica no país.
O mundo assiste atônito, em todos os continentes, a eventos climáticos extremos cada vez mais destruidores e frequentes. As enxurradas no Estado ou na Líbia e as ondas de calor que assolaram recentemente o Hemisfério Norte estão aí como alertas reiterados. São episódios que reforçam o quadro dramático dos desastres naturais e a importância de acelerar investimentos que possam contribuir para uma transição econômica e energética capaz de frear a velocidade do aquecimento global. As vantagens competitivas do Brasil são ímpares. Resta saber aproveitá-las.