Ely José de Mattos, economista e professor da Escola de Negócios da PUCRS
O Rio Grande do Sul sofre, neste momento, mais um duro golpe em função das enchentes. Grande volume de chuva concentrada em um curto espaço de tempo elevou rapidamente o nível dos rios, alagando grandes áreas urbanas e causando mortes e prejuízos severos. Já testemunhamos diversos desastres naturais desse tipo no Brasil. E testemunharemos muitos mais, infelizmente.
Precisamos de aculturamento social, envolvendo setor público e sociedade civil
A ocorrência cada vez maior de desastres naturais é uma manifestação palpável das mudanças climáticas causadas pela atividade humana na terra. Já existe consenso científico formado sobre isso. O efeito estufa, provocado por gases emitidos na atmosfera, é o principal responsável pelo aquecimento acelerado da Terra. Segundo cientistas que compõem o IPCC, a Nasa e inúmeros outros centros de pesquisa, a Terra está aquecendo cerca de 10 vezes mais rápido do que em qualquer outro momento após uma era glacial – e isso ocorre porque estamos emitindo cerca de 250 vezes mais gases do que os processos naturais.
Argumento tudo isso para dizer que somos culpados pela própria desgraça? Não, pois não se trata de discutir “culpa”. A questão central é identificar e reconhecer as causas deste mal que nos aflige, para que possamos atuar contra novos desastres que muitíssimo provavelmente virão. A questão que se impõe é sobre o que devemos (ou deveríamos!) fazer a respeito dos eventos climáticos extremos.
Com absoluta urgência, mas com efeitos de mais longo prazo, devemos insistir em tornar a Terra mais sustentável. Isso significa continuar atuando para redução de emissão de gases de efeito estufa. De outro lado, com ainda mais urgência, porém com efeitos de mais curto prazo, estão as ações de adaptação e mitigação de danos.
Refiro-me, basicamente, a uma mudança radical que o Brasil precisa fazer em termos de prevenção de desastres. O evento extremo ocorrerá; a questão é estar preparado e responder rápido para evitar ao máximo a perda de vidas e os danos socioeconômicos. Trata-se de cultivar uma cultura da preparação, do alerta. Precisamos de mais do que descrições vagas em planos diretores municipais. Precisamos de aculturamento social, envolvendo setor público e sociedade civil. A triste motivação para isso está estampada na capa de GZH, neste momento.