Por Zé Barbosa, sócio-fundador do Lineastudio
Ao longo dos meus 20 anos de carreira como arquiteto, já fui perguntado inúmeras vezes: “o que será tendência daqui para frente?” Ou seja, para onde vão os gostos, escolhas, inclinações estéticas ou decisões de consumo das pessoas. Que cores? Que materiais? Que formas? Em um mundo cada vez mais conectado e imediatista, aliás, quase nunca o que está em voga em janeiro sobrevive a dezembro: há modismos que duram meses, semanas e até dias.
Embora isso seja realidade em diversos segmentos de serviços e comércio, faço um recorte específico naquele em que atuo: a arquitetura. De todas as áreas do design, talvez essa seja a mais permanente — seja na construção de um edifício ou na elaboração de um projeto de interiores, é a arquitetura que atravessa o tempo e as gerações. Se convivemos por tanto tempo com uma criação, é uma armadilha ir atrás apenas de “tendências” ou modismos.
Mesmo inovando, os grandes nomes da arquitetura se desvincularam dos modismos da época, criando obras atemporais
Isso não significa que uma obra não deva buscar novidades ou outros olhares inspirados pela vida contemporânea. As novas tecnologias e as mudanças do cotidiano e do estilo de vida devem ser observadas e atendidas pelos projetos. Não podemos nos desvincular do zeitgeist — palavra alemã que define o espírito de época, uma espécie de clima cultural e intelectual do mundo em uma determinada época.
Mesmo inovando, os grandes nomes da arquitetura se desvincularam dos modismos da época, criando obras atemporais. Afinal, a arquitetura é arte, mas também é ciência: é um olhar multidisciplinar sobre o urbanismo, o paisagismo, o design industrial, a sociologia e tantos outros aspectos e estudos. Portanto, requer uma visão global, que compreenda o contexto em que vivemos e as possibilidades do design.
Dentro desse universo, a arquitetura de qualidade não é um caminho trilhado por tendências efêmeras. A busca pela atemporalidade, a força do conceito e a antevisão são essenciais. Que sempre façamos projetos que perdurem para muito além das tendências. Que tenhamos capacidade e sabedoria de separar o efêmero do permanente, o trivial da arte. Assim como cada um de nós, as edificações precisam também de identidade e personalidade. Precisam de vida — vida que se confunde com a de seus usuários.