Por Leandro Ioschpe Zimerman, professor titular da Faculdade de Medicina da UFRGS e membro titular da Academia Sul-Rio-Grandense de Medicina
Adeus ano velho, feliz ano novo! Festejar é preciso. O que passou é passado, e temos pela frente um novo início, uma nova vida. Será? A marcação do tempo — e sua divisão em horas, dias, anos — é uma das maiores criações da humanidade. Renova a esperança de mudanças, seja por decisão pessoal, como nas resoluções de Ano-Novo, seja por uma sensação de que este é um período de milagres e desejos concedidos. O senão é que esta sensação de magia tira o peso da decisão pessoal e dá margem a mais irresponsabilidades, motoristas bêbados, balas perdidas.
Vale lembrar da pandemia de covid, logo ali atrás: a virada do ano significou aglomerações e contaminações, justificadas pela negação usual e potencializadas por esta magia da nova vida. Pela sensação de que, se vai haver um novo início logo ali na frente, não pode haver um final agora.
Se teremos uma nova vida, ou mesmo qualquer vida, depende mais das nossas decisões do que da inevitabilidade das coisas
Reuniões familiares são momentos especiais. Juntam-se gerações, trocam-se histórias, buscam-se memórias. Ficamos mais próximos, tanto dos outros como de nós mesmos. É chance de nos conhecermos melhor, de aprendermos com o nosso futuro, que está sentado ali na nossa frente. E o que se viu, mesmo com alertas e risco de contaminação, foi um verão cheio de reuniões com amigos e festas com família, trazendo o paradoxo: quanto mais próximos ficávamos, maior o risco de perdermos exatamente aqueles de quem mais queríamos ficar próximos.
Foi ontem, e já está se perdendo no passado. Mas precisamos guardar a lição para todos os finais de ano. Na verdade, para todos os dias do ano. Se teremos uma nova vida, ou mesmo qualquer vida, depende mais das nossas decisões do que da inevitabilidade das coisas. Apostar que o tempo cura tudo é uma meia-verdade; ele precisa de ajuda. Não existe o “felizes para sempre” se não batalharmos para tal. Se não tivermos, no presente, a consciência de que somos nós que fazemos o nosso futuro. Feliz ou não, para haver futuro, precisamos ser responsáveis no presente. Um ano não é o limite. Até que termine, nosso tempo não tem limite.