O Estado foi fustigado por um segundo evento climático extremo em menos de um mês. O ciclone extratropical que atingiu o Rio Grande do Sul nesta semana teve características diferentes em relação ao fenômeno que, em junho, devastou especialmente municípios do Litoral Norte e do Vale do Sinos e deixou 16 mortos, mas foi possível notar uma melhor preparação para prevenir riscos à população. Mesmo assim, a queda de uma árvore sobre uma residência, em virtude do vento forte, vitimou um morador de Rio Grande, na Zona Sul, onde as rajadas chegaram a 140 km/h.
Desdenhar da fúria da natureza potencializada pela ação do homem será cada vez mais uma péssima aposta
O temporal do mês passado foi um duro alerta para a necessidade de ser mais previdente diante de avisos meteorológicos sobre tempo severo. Desta vez, de forma prudente, foram tomadas várias medidas voltadas a evitar maiores transtornos e situações mais graves. Algumas prefeituras cancelaram aulas. O governo gaúcho fez o mesmo, determinando que as escolas da rede estadual ficassem fechadas ontem. Em áreas que costumam ficar alagadas quando há precipitações volumosas, famílias foram retiradas com antecedência, antes de a água invadir as suas casas, com tempo, inclusive, de salvar pertences. Locais foram previamente preparados para receber desabrigados. A prudência também levou a prefeitura da Capital a gestionar, ainda na terça-feira, o adiamento da partida entre Grêmio e Bahia, na quarta à noite.
As previsões geradas pelos institutos de meteorologia foram acompanhadas pari passu pelo poder público e pelas defesas civis, que a toda hora atualizavam a situação para as comunidades, orientavam sobre como proceder e informavam canais de contato em caso de emergência. Equipes responsáveis por prestar auxílio mostraram-se prontas para atender aos chamados. A própria população pareceu estar mais ciente da importância de não subestimar os alertas.
O Centro Nacional de Previsão Ambiental dos Estados Unidos observou que a semana passada foi a mais quente já registrada no planeta. É o resultado do aquecimento global, causado pelas mudanças climáticas, junto ao retorno do fenômeno El Niño. São repetidas as advertências de cientistas de que a humanidade deve esperar pela ocorrência cada vez mais frequente de eventos extremos – que levam a desastres naturais como alagamentos, enxurradas, quedas de barreira, deslizamentos e vendavais. Outro grupo de estudiosos voltou a afirmar, no início da semana, que a Terra ingressou no chamado Antropoceno, era geológica caracterizada pela influência da ação humana sobre o planeta.
No Rio Grande do Sul, períodos de El Niño levam a chuvas mais volumosas e duradouras, principalmente no inverno e na primavera. É imperioso, portanto, que sociedade e poder público compreendam e ajam no sentido de melhor se precaver para evitar a perda de vidas, minimizar prejuízos materiais e mesmo transtornos urbanos típicos de temporais e fenômenos do gênero. Em outra frente, mas também ligada ao tema, a Assembleia gaúcha aprovou, na terça-feira, projeto de lei que agiliza o repasse de apoio financeiro a famílias afetadas por situações de calamidade ou emergência ocasionadas pelo clima. É uma iniciativa que faz parte deste amadurecimento.
Mesmo que a preparação desta vez tenha sido mais satisfatória em relação ao ciclone extratropical de junho, ainda há o que evoluir em termos de pronta resposta, especialmente em serviços de utilidade pública e remoção definitiva de famílias moradoras de áreas de risco. Desdenhar da fúria da natureza potencializada pela ação do homem será cada vez mais uma péssima aposta.