O governo federal anunciou ontem que o Plano Safra 2023/2024 disponibilizará R$ 364,22 bilhões para médios e grandes produtores. É um montante 27% superior ao anunciado no ano passado. Após uma sequência de declarações desastradas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no início do ano, a busca por assegurar crédito farto para agricultores e pecuaristas pode ser considerada um gesto no sentido de se reaproximar do setor, em grande parte refratário à gestão petista. Mas é, sobretudo, o reconhecimento da relevância da atividade rural, consolidada nas últimas décadas na condição de segmento mais pujante da economia nacional. Neste ano, especificamente, deu contribuições significativas que inclusive o Palácio do Planalto tenta capitalizar.
A safra recorde de 305,4 milhões de toneladas de grãos em 2023, conforme as estimativas mais recentes do IBGE, foi decisiva para o PIB brasileiro de janeiro a março surpreender e avançar 1,9% em relação ao trimestre imediatamente anterior. Só a agropecuária cresceu 21,6%. Com o impulso, as estimativas para a alta da atividade econômica no país no ano, que há um mês se situavam ao redor de 1%, já superam os 2%. A grande produção do campo, também com a ajuda da conjuntura internacional, tem sido ainda essencial para conter a inflação dos alimentos. Não se deve esquecer ainda que itens como soja, milho, açúcar e carnes têm, há bastante tempo, se tornado pilares do saldo comercial positivo do Brasil.
Além das oscilações de mercado, a agropecuária, como atividade a céu aberto, é sempre sujeita a condições difíceis de serem administradas, como as questões climáticas. O resultado da safra 2022/2023, portanto, ainda é incerto em termos de volume e rentabilidade. Mas espera-se que o Plano Safra ontem detalhado concorra para que o país possa celebrar outra vez em 2024 novas marcas recordes, girando a roda da economia e assegurando maior disponibilidade de alimentos para os brasileiros. O próximo ciclo agrícola pode ter ainda a contribuição do Rio Grande do Sul, terceiro maior produtor de grãos do país, mas assolado por estiagens severas nos últimos dois anos. A chegada do El Niño reduz as chances de novo déficit hídrico durante o verão no Estado. Isso eleva a possibilidade de os gaúchos voltarem a ter uma safra normal.
Com a Selic em 13,75% ao ano, as condições de crédito não são as melhores e, por isso, ainda é negociado o volume de recursos que o governo direcionará para a equalização do juro (diferença entre as condições de mercado e o efetivamente pago pelo tomador). As taxas anunciadas no plano variam de 7% a 12,5% ao ano. Mas neste tema do custo do capital, acerta o governo federal ao decidir por uma redução de até 1 ponto percentual no juro, conforme a adesão a práticas de agricultura sustentável. É uma medida sintonizada com a necessidade de conciliar cada vez mais produção com proteção ao meio ambiente, um caminho, aliás, já trilhado pela esmagadora maioria dos agropecuaristas, cientes da importância de conservar os recursos naturais de suas propriedades. Isso está atrelado, afinal, à própria perpetuação do negócio.
Hoje, o governo federal também anuncia as condições do Plano Safra da agricultura familiar, que terá mais R$ 75 bilhões. É outro segmento de grande relevância para a produção dos alimentos que chegam à mesa dos brasileiros. O agronegócio brasileiro, de qualquer porte ou especialidade, é próspero graças ao trabalho diário dos homens e das mulheres do campo, à busca pela profissionalização e à consciência de que é necessário sempre estar incorporando novas tecnologias para reduzir custos e ter maior produtividade. Merece, portanto, todo o apoio possível. Melhor ainda se existir um esforço adicional para distensionar relações e garantir a paz no meio rural.