Como esperado, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) decidiu, na quarta-feira, manter a taxa Selic em 13,75% ao ano. A surpresa esteve no tom enigmático e mais duro do que o previsto no comunicado, sem uma indicação clara de que o ciclo de corte do juro poderia começar na reunião do início de agosto. Após o susto inicial, analistas começaram a tentar decifrar melhor ontem o teor da mensagem do colegiado e boa parte avalia que ainda existe a possibilidade de a flexibilização monetária se iniciar no próximo encontro. Ao que parece, mesmo com uma cautela maior do que o imaginado, há uma transição na comunicação que poderia ser considerada preparatória para uma decisão efetiva. Notou-se, por exemplo, a retirada de referências à possibilidade de, no sentido contrário, existirem riscos de novo aperto. A variedade de interpretações, no entanto, mostra a dificuldade de se fazer previsões seguras.
Resta então aguardar novos dados econômicos e de inflação, à espera de sinais mais palpáveis do que pode ocorrer em agosto
Resta então aguardar novos dados econômicos e de inflação, à espera de sinais mais palpáveis do que pode ocorrer em agosto. Há ainda definições importantes pela frente nas próximas semanas. A votação do novo marco fiscal no Congresso não terminou. O texto saiu do Senado mais condescendente com gastos e, por isso, será reexaminado na Câmara dos Deputados. Existe também grande expectativa em relação à reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN), na próxima quinta-feira, que vai tratar das metas de inflação (hoje em 3,25% para este ano e 3% para 2024). Temem-se hipóteses como a do CMN elevar as metas, o que passaria a imagem de maior leniência com a alta dos preços, afetando negativamente as expectativas futuras para o IPCA. Mais do que a inflação atual (3,94% em 12 meses), é o horizonte para 2024 que importa para o BC. Neste momento, o cenário é de alta de 3,4% para o próximo ano. Há apostas no mercado de que, se as projeções forem um pouco mais benignas, a janela para um corte em agosto poderia se abrir.
No entanto, é preciso pontuar que, inclusive entre analistas, gestores e economistas sem identificação com o governo federal, crescem as críticas quanto à postura do Banco Central. Mesmo ex-diretores do BC têm feito reparos à atuação da instituição. Principalmente pela pouca importância atribuída à significativa queda recente da inflação acima do esperado. Alega-se, ainda, que grande parte da acomodação inflacionária deve ser atribuída à queda dos preços das commodities no mercado internacional, e não ao efeito do juro.
Não se trata – nem de longe – de colocar em dúvida a importância da independência do Banco Central, que o faz imune a pressões políticas, ou a qualidade técnica dos membros do Copom. Menos ainda considerar minimamente aceitável a intenção vocalizada por governistas de querer baixar o juro na marra. Para o bem da economia brasileira, visando a um controle de preços duradouro e à criação de condições de crescimento sustentável da atividade, espera-se que o BC esteja certo em sua postura cautelosa. Mas se existem no próprio mercado especialistas com opiniões distintas, o debate não pode ser interditado. O Copom não é isento a críticas ou a cometer erros de avaliação.
O fato é que, na economia real, o juro estratosférico afeta os negócios, inibe investimentos produtivos e pressiona as condições financeiras de empresas e famílias com alto grau de endividamento. Fica a esperança de que novos dados sigam confirmando o processo de desinflação e as expectativas de mais longo prazo permaneçam melhorando para o BC se sentir confortável a dar início ao tão esperado período de afrouxamento monetário.