O país começou a conhecer ontem as informações do Censo Demográfico de 2022, divulgadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O levantamento costuma ser considerado um retrato nacional por mostrar o tamanho da população, seu perfil em vários recortes – como renda, características familiares, escolaridade e cor – e as condições dos domicílios. Novos detalhes serão divulgados posteriormente, pormenorizando ainda mais a contagem.
As informações do levantamento são essenciais para formular e calibrar políticas públicas nos mais diversos campos
Mais do que uma imagem estática de seus habitantes, é um levantamento que deve ser analisado levando-se em conta os resultados obtidos em décadas anteriores, para que daí possam ser extraídas tendências. O principal dado do Censo indica que, em 1º de agosto de 2022, o Brasil tinha 203 milhões de residentes. São cerca de 12 milhões de pessoas a mais em comparação a 2010, quando foi feito o trabalho anterior. É um resultado surpreendente, pelo fato de que as próprias projeções do IBGE apontavam para uma população maior, de quase 208 milhões de pessoas. Mostra que a quantidade de brasileiros cresceu a uma média de apenas 0,52% ao ano, a menor taxa já observada.
São sinais que indicam, possivelmente, uma transição demográfica ainda mais acelerada no país. O Brasil envelhece de forma rápida, e talvez o início do período de declínio da população possa começar antes de meados de 2040, como estimava o próprio instituto. Isso reforça os alertas de que o país terá de dar maior atenção à área da saúde. São serviços cuja procura cresce conforme o perfil etário avança. Ao mesmo tempo, torna-se indispensável apressar o passo na corrida para repensar a educação. É premente encontrar meios eficientes para melhorar a aprendizagem e formar capital humano mais produtivo. A economia dependerá de um rendimento maior do trabalho para crescer. É uma transformação que trará ainda um imenso desafio para a sustentabilidade das contas da Previdência
A partir de agora, paulatinamente, é preciso se debruçar sobre os grandes números e seus detalhes. As informações do Censo são essenciais para formular e calibrar políticas públicas nos mais diversos campos. São basilares, também, para detectar as principais necessidades das populações de diferentes regiões e para guiar as empresas em seus negócios. Afinal, a partir dos microdados, é possível, inclusive, conhecer as minúcias da geografia humana de cada bairro de uma capital como Porto Alegre.
Ainda será necessário buscar melhores explicações sobre as razões dessa redução acima do esperado do ritmo de crescimento da população. Ao lado da redução da natalidade, a pandemia, as migrações e mesmo possíveis problemas na coleta das informações do Censo são fatores especulados. Foi, como se sabe, um levantamento tumultuado. Não foi realizado em 2020 por causa da crise sanitária, no ano seguinte, pelo orçamento insuficiente, e, em 2022, sofreu com diversos contratempos.
Por agora, no entanto, é preciso se dedicar a analisar os dados disponíveis. E eles mostram que o Rio Grande do Sul, com 10,88 milhões de moradores, foi o quinto Estado com a menor taxa de crescimento populacional. Passou do quinto para o sexto lugar entre as unidades da federação com o maior número de residentes. Entre os 20 municípios brasileiros com mais de 100 mil habitantes que tiveram as maiores perdas de domiciliados, cinco são gaúchos: Uruguaiana (-6,6%), Viamão (-6,4%), Porto Alegre (-5,4%), Novo Hamburgo (-4,7%) e Alvorada (-4,3%). São fenômenos que ainda requerem melhor compreensão. Até para serem desenhadas ações capazes de contribuir para o desenvolvimento e a qualidade de vida do Estado como um todo, das regiões gaúchas e dos municípios que estão perdendo população.