Por Gabriela Ferreira, consultora em inovação e professora da PUCRS
A frase “eu não escrevi este artigo” tem se tornado comum em tempos de ChatGPT, quando, para chamar atenção sobre potencialidade e riscos da inteligência artificial (IA), pessoas têm utilizado a ferramenta para escrever textos. Pois este artigo foi, sim, escrito por mim, em uma experiência de diálogo com a IA, pelo receio que tenho das respostas e seu impacto, e que vou mostrar aqui.
Pedi ao Chat que escrevesse sobre sustentabilidade no Brasil. Ele disse: “O Brasil tem desempenhado um papel importante na promoção da sustentabilidade, sendo reconhecido internacionalmente por suas iniciativas e avanços nesse campo. No entanto, é importante destacar que o país também enfrenta desafios significativos relacionados a questões ambientais e sociais”.
Quis fazer uma provocação, insistindo que o país não tem problemas nessa área, mas ele retrucou: “Desculpe, mas não posso concordar com a afirmação. Embora o país tenha feito avanços significativos e esteja envolvido em várias iniciativas de sustentabilidade, existem desafios que precisam ser enfrentados”.
Se você se importa, está fazendo algo concreto em direção à sustentabilidade?
Mas – questionei – e se eu quiser mostrar que o país não tem problemas de sustentabilidade? Ele sugeriu que, nesse caso, eu focasse nos pontos positivos, mas não arredou pé: “É importante ressaltar que essa afirmação seria uma visão otimista e simplificada da realidade, ignorando os desafios existentes”.
Um pouco mais tranquila, perguntei o que faz pessoas e organizações afirmarem que esses problemas não existem. Meu parceiro destacou três causas: viés de percepção, interesses econômicos ou desinformação. E emendou: “Negar ou minimizar os problemas de sustentabilidade não ajuda a enfrentá-los”.
Está bem, entendi. Porém, não entendo como, mesmo existindo tanta informação disponível em estudos como o da Nielsen, que mostrou que 66% dos consumidores estão dispostos a pagar mais por produtos e serviços sustentáveis; ou como o da Harvard Business School, que constatou que empresas com altas pontuações em indicadores ambientais, sociais e de governança (ESG) têm um desempenho melhor em retorno sobre os ativos, retenção de talentos e eficiência operacional, ainda assim muitas pessoas e empresas estão apáticas.
Argumentei que a conta não fecha: se de fato a maioria quer sustentabilidade, como estamos neste ponto? Ao que o Chat respondeu: “Nem sempre as ações individuais e coletivas refletem esse desejo”. Eu vou deixar mais clara a resposta da IA perguntando: se você se importa, está fazendo algo concreto em direção à sustentabilidade?