O RBS Notícias e o Jornal Nacional veicularam nos últimos dias reportagem com relatos impressionantes de comerciantes dos vales do Sinos e do Paranhana e da Serra que são extorquidos por facções. Seria um preço para não serem importunados. As imagens também são chocantes. Em uma delas, um homem põe fogo na frente da residência de um empresário que teria se negado a pagar o “pedágio” exigido pelos bandidos. Em outra, uma revenda de automóveis é atingida por uma saraivada de disparos de armamento pesado. Em outro caso, executaram um rival e as cenas foram enviadas como forma de advertência para os que resistem em fazer o acerto, como dizem.
Não é admissível que empresários tenham de pagar a quadrilhas por uma suposta “proteção” para poderem trabalhar sem serem atacados
As informações apuradas pelo repórter Giovani Grizotti indicam que muitas vítimas têm medo de registrar as ocorrências das ameaças. Mesmo assim, há mais de 70 episódios levados a conhecimento das autoridades no Vale do Sinos. Outros 30 apenas em Bento Gonçalves, na Serra. As forças de segurança do Estado, com o auxílio dos mecanismos de inteligência, devem agir rapidamente para fazer cessar esse terrorismo. Não é admissível que empresários tenham de pagar a quadrilhas por uma suposta “proteção” para poderem trabalhar sem serem atacados ou mesmo que vivam sob frequente tensão quando tomam a atitude correta de não ceder às chantagens. Para isso, no entanto, têm de ter garantias de instituições como a Polícia Civil e a Brigada Militar.
Um empresário narrou que os bandidos mostram ter conhecimento das rotinas e endereços dos familiares dos extorquidos. Com o envio, inclusive, de imagens dos filhos chegando à escola. É natural que qualquer pessoa submetida a esse tipo de tentativa de amedrontamento fique seriamente abalada. Mas um dos ouvidos pela reportagem, com a identidade preservada, lembrou que se “fraquejar” uma vez, ou seja, se se dobrar às intimidações, tende a permanecer nas mãos dos criminosos.
Como observaram as autoridades ouvidas nas reportagens, é preciso que as ocorrências sejam registradas pelos empresários que sofrem as tentativas de extorsão. Ao mesmo tempo, é necessária uma resposta imediata do Estado, com a detenção dos executores dos ataques e identificação dos mandantes. Não é de se duvidar que muitos já estejam sob custódia do Estado no sistema prisional. Uma pessoa foi presa na semana passada, mas obviamente o número de envolvidos é grande. As investigações são conduzidas nas delegacias de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Dracos) e, segundo o chefe da Polícia Civil do Estado, Fernando Sodré, há a determinação de que o Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) passe a monitorar e acompanhar os casos para reforçar as investigações.
As reportagens mostraram ainda que até uma empresária do setor artístico foi procurada pelos bandidos. Caso não pagasse o “pedágio”, atacariam os shows que ela organiza. Há novos relatos de ameaças a síndicos de condomínios. Isso reforça a urgência de uma reação rápida e contundente de repressão a esse crime. Caso contrário, as facções continuarão com as extorsões e, ao que parece, ampliarão o achaque para outras atividades. O império da lei tem de se impor.