A nova ponte sobre o Guaíba é mais um exemplo recente de obra que é iniciada com previsão de ser concluída em poucos anos, mas a sua construção acaba se tornando uma saga. Os trabalhos na travessia começaram em 2014 e, pelo cronograma original, estariam encerrados em 2017, em apenas três anos. Quase uma década depois, no entanto, não é possível ter a mínima segurança sobre quando estará plenamente pronta. Das sete alças de acesso previstas, apenas três estão sendo utilizadas pelos motoristas.
O que acontece agora seria apenas cômico se não mostrasse a incúria no planejamento do poder público
O vão principal da ponte, demanda prioritária dos gaúchos por muito tempo, foi inaugurado em dezembro de 2020 em cerimônia festiva com a presença do presidente à época Jair Bolsonaro. O então ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, assegurava que a conclusão das alças pendentes ocorreria em breve. Mas nada mais andou e até hoje a travessia não entrega aos usuários todas as facilidades previstas.
A falta de recursos sempre foi uma das principais razões para as obras se arrastarem em um ritmo muito aquém do prometido. O que acontece agora, no entanto, seria apenas cômico se não mostrasse a incúria no planejamento do poder público. O novo governo federal alocou R$ 83 milhões para o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) direcionar à nova ponte, verba que antes não existia. Seria excelente para os interesses do Rio Grande do Sul. Mas o dinheiro não pode ser utilizado para este fim porque antes é necessário remover ao menos 400 famílias que vivem em locais próximos aos pontos onde as alças têm de ser construídas, o que demandaria um investimento de mais R$ 100 milhões. Além disso, como informou o repórter Jocimar Farina, na edição de Zero Hora de ontem, o contrato que existia com a empreiteira responsável pela execução da obra expirou há mais de um ano e meio. Não há previsão para nova licitação porque a nova gestão federal herdou planejamento de concessão de rodovias no Estado que inclui a nova ponte. Mas até agora não se sabe se a intenção segue em pé.
As informações disponíveis indicam que o ministro dos Transportes, Renan Filho, pediu a ajuda do Estado, inclusive financeira, para a realocação das famílias. Se for este o caminho, que seja trilhado o quanto antes, até para dar condições dignas de moradia para estas centenas de famílias e ser possível recolocar as máquinas no canteiro de obras. Ao mesmo tempo, é preciso que o governo federal informe quais são os planos concretos para construir as alças. Será, mesmo, por meio de concessão? Ou a intenção será finalizar a ponte com os escassos recursos públicos? Convém uma definição rápida.
O Estado aguardou por décadas uma opção para a antiga ponte, inaugurada em 1958. Afinal, era um projeto estruturante para desafogar o trânsito ao acessar e deixar a Capital pelas BRs 290 e 116 e diminuir os transtornos que surgem a cada necessidade de içar o vão móvel – isso sem falar nos episódios em que problemas operacionais causaram grande demora no restabelecimento do tráfego e enormes engarrafamentos. A nova travessia traz vantagens econômicas, por melhorar a logística, e de ganho de tempo para motoristas. Mas seus benefícios estão incompletos com a falta de quatro dos sete acessos. A construção da nova ponte andou lentamente durante os governos Dilma Rousseff, Michel Temer e Jair Bolsonaro e, agora, ameaça atravessar o terceiro mandato de Lula. Não é um tempo aceitável. A antiga travessia, para efeito de comparação, levou apenas três anos para ficar pronta. Isso na década de 1950.