Os petistas mais radicais querem a demissão do ministro José Múcio Monteiro, da Defesa, acusado de fraqueza no trato com as Forças Armadas no episódio que culminou com a invasão das sedes dos três poderes, em Brasília, no último domingo. Mesmo depois da posse dos novos comandantes, os militares se mantiveram tolerantes e, em alguns casos, até solidários com os manifestantes golpistas nos acampamentos diante dos quartéis, que acabaram servindo de base de apoio para os invasores.
Foi, realmente, um vacilo do novo ministro. Mas, como concluíram ontem cinco ex-integrantes da pasta que se reuniram virtualmente para pedir sua permanência no cargo, não é hora para uma atitude com potencial de gerar mais crises. Nelson Jobim, Aldo Rebelo, Raul Jungmann e Fernando Azevedo, este último ocupante do cargo no governo Bolsonaro, procuraram Jacques Wagner – o preferido do PT para o lugar de Monteiro – a fim de pleitear a permanência do atual escolhido.
Há valores mais altos a serem preservados, entre os quais a hierarquia e a disciplina impostas pela Constituição Federal
Faz sentido. Múcio Monteiro está no cargo exatamente por ter um perfil moderado e por contar com ampla aceitação por parte dos militares. Ao assumir o comando de uma área delicada e à beira da insubordinação, ele teve habilidade para trocar os comandantes das três forças sem despertar insatisfação na caserna. Mas errou ao apostar que os acampamentos bolsonaristas se dissolveriam naturalmente após a posse de Lula. Por isso, sua demissão chegou a ser prevista pelo influenciador e deputado José Janones, apoiador de Lula na campanha.
Por enquanto, tudo indica que Monteiro será mantido no cargo para enfrentar talvez o seu maior desafio: contornar a crescente e cada vez mais explícita insatisfação dos militares com o novo governo, principalmente depois que o presidente cobrou publicamente os generais pela leniência com os golpistas acampados em frente às unidades militares.
Mesmo que existam diferenças ideológicas históricas, há valores mais altos que precisam ser preservados, entre os quais a hierarquia e a disciplina impostas pela Constituição Federal. Na Carta, o papel reservado às Forças Armadas está bem especificado: “sob a autoridade suprema do Presidente da República, destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem”.
Não há, portanto, margem para insubordinações. Está claro, após o episódio de 8 de janeiro, que nem todas as manifestações pelo país representam liberdade de expressão, que entre os insatisfeitos com o resultado eleitoral de 2022 há vândalos e saqueadores. Porém, eles são uma minoria. Compete aos militares sujeitarem-se aos poderes constitucionais legitimamente constituídos, ao mesmo tempo que estes, principalmente o Executivo, têm o dever de dispensar tratamento digno e republicano aos subordinados de farda.