O rescaldo da depredação promovida por golpistas radicais nas sedes dos três poderes em Brasília aumenta a revolta dos brasileiros que têm apreço pela democracia e que, inevitavelmente, acabarão arcando com o prejuízo dos bens públicos danificados. A estupefação pelo ataque também provoca a compreensível e necessária reação das principais autoridades do país, em parte já materializada com o afastamento do governador do Distrito Federal pelo STF, com a intervenção na segurança da capital decretada pelo presidente Lula e, principalmente, com a identificação policial dos invasores detidos ou flagrados na ação destruidora, além da desmontagem dos acampamentos golpistas. Nesse contexto, o grande desafio do país é retornar à normalidade sem deixar impunes os delinquentes, os mandantes e os financiadores, mas também sem perseguições ideológicas, vinganças políticas ou constrangimentos à oposição democrática.
Foi devastadora a passagem da horda bolsonarista pelas sedes do poder. Os vândalos deixaram vidros quebrados, equipamentos e documentos destruídos, obras de arte e galerias fotográficas danificadas, móveis e utensílios inutilizados, símbolos nacionais ultrajados e o patrimônio público arruinado. Deixaram, também, rastros de selvageria e ódio. Um dos maiores exemplos da barbárie foi protagonizado pelo manifestante que, enrolado na bandeira nacional, defecou sobre um móvel do Supremo Tribunal Federal. E ainda fez questão de se deixar filmar no ato ignóbil. O vídeo escatológico circula nas redes sociais e certamente ajudará na identificação do troglodita.
Junto com depredação, também ocorreram agressões e saques. Integrantes da equipe de segurança das instituições republicanas, jornalistas que faziam a cobertura do ato e até mesmo policiais foram atingidos por objetos lançados pelos agressores, alguns até atacados fisicamente, o que resultou em ferimentos. Entre os inúmeros objetos e equipamentos levados, há o registro do roubo de armas e munições do Gabinete de Segurança Institucional, localizado no Palácio do Planalto.
Os autores desse verdadeiro ataque terrorista têm que ser identificados e punidos severamente, de acordo com o que prevê a legislação penal. Mas não são os únicos responsáveis pelo episódio que envergonha o país. Também merecem investigação e punição os patrocinadores do caos, incluídos aí governantes e ex-governantes que, por ação ou omissão, estimularam a massa golpista a atentar contra a democracia brasileira. A negligência e a omissão das autoridades locais, aliadas ao descuido do governo recém-empossado e dos demais chefes de poderes, facilitaram a invasão da Praça dos Três Poderes e o assalto aos prédios públicos.
Portanto, paralelamente ao trabalho policial de triagem dos vândalos e de encaminhamento de todos criminosos para o devido processo legal, é impositivo que as lideranças políticas e administrativas do país se reorganizem, corrijam suas próprias falhas e se preparem para gerenciar uma população dividida por conflitos mal resolvidos e ainda contaminada pelo ódio remanescente da campanha eleitoral. Esse desafio terá que ser enfrentado com sensatez e justiça, que são os fortificantes da democracia.