A posse de Luiz Inácio Lula da Silva para seu terceiro mandato como presidente do Brasil pode ser vista pelos brasileiros como uma celebração da democracia, considerando-se principalmente os sobressaltos institucionais causados ao país nos quatro anos do governo ao qual ele sucede. Mas a opção da maioria dos eleitores pela alternância, manifestada livremente em eleições limpas e exaustivamente fiscalizadas até mesmo por observadores estrangeiros, não significa salvo-conduto para a retomada de práticas públicas ultrapassadas, equivocadamente adotadas em anteriores administrações petistas.
O compromisso de governar para todos, já manifestado pelo novo presidente no dia de sua diplomação, terá que ser reafirmado e colocado em prática
Por sua história política, por sua vocação para o diálogo e pelo respeito ao pluralismo de visões demonstrado nos dois governos que comandou, Lula retorna com suficiente crédito para liderar uma reconciliação nacional. Mas seus desafios são mais amplos. Além de assumir o comando de um país dividido pela polarização política, ele assume também a obrigação de resolver com urgência demandas econômicas, sociais, educacionais e ambientais que ficaram pendentes na administração anterior. Por isso, para preservar e fortalecer a estrutura democrática que o levou de volta ao poder, Lula e os demais integrantes do primeiro escalão terão que governar com transparência e integridade.
Neste domingo, quando se apresentar ao país com seus 37 ministros perante 2 mil convidados, entre os quais mais de cem representantes de governos estrangeiros e chefes de Estado, o presidente recém-eleito estará assumindo a responsabilidade pelo destino de 207,8 milhões de brasileiros, recém contabilizados pelo IBGE nos resultados preliminares do Censo Demográfico 2022. Entre esses estão, além de seus apoiadores convictos ou eventuais, milhões de eleitores que preferiam outro projeto político. O compromisso de governar para todos, já manifestado pelo novo presidente no dia de sua diplomação, terá que ser reafirmado e colocado em prática o mais breve possível.
Se o retorno do petismo ao comando do país sinaliza para um melhor diálogo com a sociedade e por mais atenção a demandas sociais e a áreas negligenciadas nos últimos quatro anos, também levanta dúvidas sobre sua capacidade de corrigir erros cometidos no passado em relação à política econômica e a posturas éticas. Velhas práticas de intervenção demasiada do Estado na economia não podem ser repetidas, pois já se revelaram danosas para o país – e aqui cabe citar exemplos como o controle artificial de preços de combustíveis e energia elétrica, a redução de impostos para setores simpáticos ao governo ou o uso de bancos públicos para financiar projetos de duvidoso retorno para a nação.
Para tornar o Brasil um país mais desenvolvido e mais justo, com dignidade e qualidade de vida para todos os brasileiros, como prometeu na cerimônia de diplomação, o presidente eleito terá que revisar o passado e rever conceitos arraigados nas hostes mais radicais de seu partido. O certo é que a sociedade brasileira, por suas instituições formais, pelas ações de cidadania e pela mesma imprensa livre e combatente que enfrentou desmandos do governo anterior, vai fiscalizar atentamente.