Como virou tradição, a Emater divulgou ontem, durante a Expointer, em Esteio, a primeira projeção para a safra de verão do Rio Grande do Sul. O resultado final, na forma de volume de produção e rendimento, como sempre, dependerá em boa medida do clima ao longo dos períodos mais importantes para cada cultura. Mas os números que expressam a intenção de área a ser plantada indicam, mais uma vez, otimismo especialmente para a soja e o milho, lavouras de sequeiro que sofreram perdas severas no último ciclo devido à estiagem que castigou o Estado.
O ímpeto de ampliar a extensão cultivada demonstra que, a despeito de anos pontualmente ruins, os agricultores seguem confiantes no futuro
O ímpeto de ampliar a extensão cultivada demonstra que, a despeito de anos pontualmente ruins, os agricultores seguem confiantes no futuro. As perspectivas de mercado são animadoras, suplantando incertezas como o aumento significativo dos custos, caso dos fertilizantes, cujos preços dispararam devido à guerra no Leste Europeu.
Conforme a Emater, a soja se espalhará por 6,56 milhões de hectares, crescimento de quase 3% sobre a safra anterior. A produtividade esperada da lavoura mais importante em termos de valor bruto é de 1.131 quilos por hectare, uma alta de 112%. Caso se confirme, a safra gaúcha chegaria a notáveis 20,5 milhões de toneladas, 124% acima do colhido neste ano e montante próximo ao recorde registrado no ciclo 2020/2021. A ratificação dessa estimativa seria de extrema importância para a economia do Rio Grande do Sul, indicando um potencial de avanço substantivo do PIB gaúcho em 2023. Tanto pelos efeitos diretos quanto pelos indiretos nos demais setores, como indústria, comércio e serviços, gerando mais negócios e renda. Cabe lembrar que, como consequência imediata da seca e da frustração da última safra de verão, a atividade econômica teve um tombo de 3,4% no primeiro semestre no Estado, conforme índice do Banco Central.
O ânimo se repete entre os produtores de milho, cultivo de grande relevância também para o desempenho da cadeia de carnes. A Emater projeta que a área das lavouras destinadas à produção de grãos (há também plantio voltado à silagem) será de 831.7 mil hectares, 6% acima da extensão semeada no ano passado. Confirmando-se a produtividade esperada, a colheita chegaria a 6,1 milhões de toneladas, mais do que o dobro do volume obtido na safra anterior. Como é uma cultura mais sensível à falta de umidade, espera-se que também cresça a abrangência da irrigada no Estado.
A nota dissonante aparece no arroz, devido a problemas de preços e custos. A área com o cereal deve cair quase 10%, mas os produtores tendem a buscar mais a alternativa de rotação de cultura com a soja e o milho, elevando a renda. Mas, no total, a área cultivada com culturas de verão no Estado, incluindo o feijão, tende a se aproximar de 8,3 milhões de hectares, com uma produção estimada de 33,8 milhões de toneladas de grãos. Por quanto, os prognósticos climáticos não trazem qualquer alarme. Assim, salvo algum contratempo inesperado, a dedicação, a capacidade e o profissionalismo dos agricultores gaúchos, que a cada ano incorporam novas tecnologias em busca de maior produtividade, tendem a levar à recuperação dos prejuízos recentes, com uma nova safra recorde a caminho.