Por Ronaldo Mota, membro da Academia Brasileira de Educação
Louvável nos preocuparmos em resolver os dramas de todos os educandos, sem exceção. Isso inclui aqueles alunos, por mais raros que sejam, que, por diversos motivos, possam ter sido impedidos de frequentar a escola, tendo como único recurso o estudo domiciliar amparados pelos seus pais. Há maneiras de resolvermos o problema, incluindo os mecanismos previstos na legislação proposta, atualmente em discussão no Congresso.
Nossos constituintes foram muito felizes quando deixaram claro, como expresso no Artigo 205, que educação é direito de todos e dever do Estado e da família e será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.
A essência é que o foco do educador deve ser sempre o educando, jamais a disputa política de qualquer natureza
A Constituição define a educação como sendo compartilhada entre o Estado e a família, indo muito além da transmissão de conhecimento, contemplando o preparo para a cidadania, o que demanda convívio com os demais, transcendendo o ambiente unicamente familiar.
Aos pais, as insubstituíveis lições de amor e de valores. À escola, as experiências compartilhadas no aprender, principalmente do convívio coletivo, com destaque ao respeito às diferenças, exercitando tolerância e empatia com aqueles que não são nossos limitados espelhos.
A essência é que o foco do educador deve ser sempre o educando, jamais a disputa política de qualquer natureza. No caso do homeschooling, infelizmente, ainda que, de início pareça pertinente se preocupar com os poucos (nem por isso desimportantes) casos de excepcionalidade, embute, salvo engano, uma tentativa de desmerecer a escola e seus integrantes, especificamente os docentes e o ambiente da escola.
Enfim, cada vez mais difícil deixar de enxergar uma linha tênue que conecta o desprezo pelos educadores, cientistas e artistas, bem como pela democracia e pelos valores democráticos, com aqueles que defendem o homeschooling, especialmente na sua versão mais contra a escola e seus professores em geral.