Por Lucas Dalfrancis, jornalista e empresário
A opinião não é um saber sobre o mundo. Mas a sua interpretação sobre ele. A opinião, portanto, não é matéria concreta, mas um ponto de vista acerca de um saber. A opinião é, pois, este texto – uma crença. Sendo todo valor opiniático profundamente relativo. E da opinião coletiva à opinião pública é um curto estágio, segundos quando a rede social vira trampolim para o bem e para o mal. E nesta espiral, do que é e do que dizem, criam-se verdades absolutas à sombra do excepcional.
O debate efervescente da aplicação das leis de incentivo à cultura – que tem sacudido a internet com denúncias aos principais músicos sertanejos do país – ilustra tal fundamento da análise do discurso. Afinal, uma parte não é o todo. E o todo não responde pelo efeito de uma podre parte. A quem serve, no fim, a cultura da nação? O Brasil, acredite, é mais de chão batido do que de asfalto. Muito mais de falta do que de sobra. O Brasil não é a bolha cultural das capitais. Onde, minimamente, as expressões da arte são mais latentes, vivas porque subsidiadas.
A cultura não é ativo de nenhum partido. A cultura não é exclusividade de grandes artistas. Ela é do povo, sobretudo dos pobres que mais necessitam dela
Calcule comigo: somos 5.568 municípios e apenas 71 teatros em funcionamento no país. Essa conta – para alguns perfumaria diante do vital – diagnostica nosso retrato limitante de sociedade. As leis de incentivo são responsáveis por levar luz intelectual a quem nunca teve acesso à arte. Descobre talentos, fomenta pensamento e criticidade, movimenta a economia criativa pelos rincões esquecidos do Rio Grande. Dá um palco a quem tem um dom, oportuniza à iniciativa privada protagonismo e solidariedade.
Esse reparte inteligente do espírito público desonera os governos, incrementa resultados e faz os recursos financeiros oxigenarem as cidades. Aliás, que salto deu o Estado: reduzindo de 25% para 10% as contrapartidas das empresas que decidem financiar a cultura. Eis o que o cidadão espera da política: que não atrapalhe, mas facilite.
A cultura não é ativo de nenhum partido. A cultura não é exclusividade de grandes artistas. Ela é do povo, sobretudo dos pobres, que mais necessitam dela; é a travessia para o futuro que precisamos. Demonizar as leis de incentivo que fazem a cultura existir, perceba, é demonizar a nossa própria emancipação coletiva e individual.