Por Ely José de Mattos, economista e professor da Escola de Negócios da PUCRS
Um dos grandes desafios para as políticas públicas na área ambiental é engajar pessoas, ou seja, fazer com que os cidadãos reajam a incentivos alinhados com objetivos de desenvolvimento sustentável. Alcançar uma sociedade que se relaciona bem com os ecossistemas passa, invariavelmente, pelos comportamentos individuais. Assim, como uma pessoa percebe o assunto no seu cotidiano, o quanto entende do tema e como estas duas dimensões se conectam com o engajamento se estabelece como um tripé central para lidarmos com os desafios ambientais atuais, de modo especial com as mudanças climáticas.
Em uma pesquisa divulgada este ano pelo ITS Rio, em parceria com a Universidade de Yale e o Ibope Inteligência, apontou que 78% dos entrevistados acham muito importante a questão do aquecimento global, sendo que 92% acreditam que o fenômeno está acontecendo e 77% disseram que a causa principal é a ação humana. Além disso, 72% também apontaram que o aquecimento global pode prejudicar muito a eles e suas famílias. Ou seja, há uma clara percepção da gravidade do problema e da responsabilidade da ação humana sobre ele.
No entanto, apesar da grande maioria dos entrevistados dizer que acredita no consenso dos cientistas sobre o aquecimento global estar acontecendo, 30% disseram saber pouco ou nada sobre aquecimento global e apenas 25% relataram saber muito. Isso implica dizer que os brasileiros percebem a gravidade do problema e concordam com os cientistas sobre o diagnóstico das causas, ainda que, na média, reportem saber pouco sobre o assunto.
Alcançar uma sociedade que se relaciona bem com os ecossistemas passa, invariavelmente, pelos comportamentos individuais
Em termos de ação, neste cenário de alta percepção e conhecimento mais baixo, a maioria diz que costuma separar o lixo e deixa de comprar algum produto que possa prejudicar o meio ambiente. Mas, apenas 17% afirmaram já ter participado de alguma manifestação ou abaixo-assinado sobre mudança climática. Isso nos indica algum engajamento individual, em ações simples, mas baixíssimo envolvimento em movimentos da sociedade.
Estes resultados, que não são tão distintos do que se observa em vários outros países, trazem um desafio claro: amplificar a educação (regular e ambiental) para que a boa percepção que tem se consolidado se transforme em mais ação. Precisamos mais educação para construir cidadania ambiental e engajamento coletivo mais consistente.