Vinte anos depois da crise hídrica que causou apagões e jogou o país no racionamento forçado, o Brasil volta a enfrentar um grave problema de escassez de energia. É lamentável que, basicamente, as mesmas razões que causaram a falta de eletricidade em 2001 se repitam agora. As lições, ao que parece, não foram totalmente aprendidas. Outra vez é um longo período de falta de chuva nas bacias dos rios onde estão as principais hidrelétricas brasileiras que cria o problema capaz de dificultar a recuperação da economia e, com faturas de luz mais caras, acaba corroendo ainda mais a renda dos brasileiros, em um momento de inflação alta e desemprego também elevado.
É a hora, portanto, de começar a planificar as próximas décadas, diversificando e fortalecendo o sistema energético nacional
É fato que, nas últimas duas décadas, o Brasil diminuiu parte da dependência das hidrelétricas, que entretanto ainda são responsáveis por cerca de dois terços da matriz energética nacional. Na virada do século, o percentual era de aproximadamente 90%. Mas, agora, muito além de fenômenos corriqueiros, como o La Niña, também entra no contexto a ameaça causada pelas mudanças climáticas. Uma das consequências conhecidas, especialmente no caso do Brasil, pelo desmatamento na Amazônia, afeta os chamados rios voadores, que levam precipitações para boa parte do mapa nacional. Assim, crescem os riscos de secas severas serem mais recorrentes.
É inevitável, portanto, partir para opções mais firmes de energia. As fontes eólica e solar ganharam relevante espaço no Brasil nos últimos anos e ainda vão crescer mais, mas também são intermitentes. Ou seja, dependem de condições naturais e provavelmente seriam insuficientes para atender a toda a demanda nacional no futuro. Usinas movidas a biomassa e biogás, da mesma forma, são alternativas possíveis e ainda têm a vantagem de ser ambientalmente mais limpas. Mas será difícil o país conseguir escapar de ter de construir e acionar mais térmicas a gás natural – que ao menos emitem quantidades menores de poluentes e são mais baratas em relação ao parque movido a óleo diesel. É a hora, portanto, de começar a planificar as próximas décadas, diversificando e fortalecendo o sistema energético nacional, mas levando em consideração a transição para uma matriz de baixo carbono, para que esse contratempo não volte a se repetir. Enfrentar a mesma escassez nos próximos anos seria um atestado inconteste de incompetência e imprevidência.
Com o choque de realidade, resta aos consumidores procurar economizar energia. Cabe ao governo federal promover uma campanha informativa de conscientização. As tarifas, conforme o sistema de bandeiras, ficaram mais caras. O melhor planejamento de tarefas domésticas e o uso adequado de aparelhos, de geladeiras ao ar-condicionado, podem ajudar o país a não passar por momentos de corte de fornecimento pela insuficiência de carga e, ao mesmo tempo, é capaz de evitar um susto na fatura da luz em uma época de orçamento apertado para a maior parte das famílias.