A batalha contra o coronavírus é uma luta comum da humanidade e, sempre que alguma ajuda em um momento difícil estiver ao alcance, ela deve ser prestada a quem mais precisa. É este sentimento de solidariedade que moveu o Estado a oferecer ajuda hospitalar a pacientes de Rondônia, na Região Norte, que enfrenta um colapso de seu sistema de saúde em virtude do grande crescimento do número de doentes. Os primeiros rondonienses chegaram na madrugada de ontem ao aeroporto Salgado Filho e foram transferidos para leitos clínicos em Porto Alegre, mas há a expectativa de que mais pessoas tenham de ser removidas para o Rio Grande do Sul, que também ofereceu amparo semelhante para o Amazonas, mas as realocações foram feitas para outras unidades da federação. Quando vierem, também serão bem-vindos.
Desprendimento e atitudes abnegadas são insuficientes para fazer frente ao desafio imposto pela pandemia
Solidariedade é um sentimento nobre e, no caos atravessado por Rondônia, Estado com laços com os gaúchos por ter recebido um grande número de migrantes que se alçaram na busca pelo progresso e ajudaram a criar uma nova fronteira agrícola para o país, pode fazer a diferença. Assim como a qualidade dos profissionais da área da saúde de Porto Alegre e do Rio Grande do Sul, tanto na linha de frente quanto na gestão, que, apesar das dificuldades enfrentadas em jornadas extenuantes, vêm conseguindo impedir cenas de extrema agonia como as presenciadas na Região Norte.
Desprendimento e atitudes abnegadas para cuidar do próximo, entretanto, são insuficientes para fazer frente ao desafio imposto pela pandemia no Brasil. Devem necessariamente ser acompanhados de planejamento, organização e foco em medidas preconizadas pela ciência, algo que lamentavelmente faltou até agora ao governo federal. O resultado da incapacidade e do negacionismo, lamentavelmente, se reflete no fato de o Brasil ser o segundo país em número de mortes por covid-19 no mundo, com cerca de 220 mil vítimas fatais.
Em meio a tanto descalabro, que resultou em um inquérito conduzido pela Procuradoria-Geral da República (PGR) para investigar ações e omissões do ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, especialmente no caso da falta de oxigênio em Manaus, ao menos se nota uma pequena mudança de postura do Planalto. Mesmo que seja pelo receio de responsabilizações ou por uma busca do presidente Jair Bolsonaro para evitar uma queda maior em sua popularidade, é algo que pode vir a ser positivo. Se duradouro, é preciso ressaltar, e não apenas uma alteração circunstancial de comportamento, como tantas vezes ocorreu até agora. O importante, neste momento, é somar esforços para a aquisição de mais vacinas e para a agilização da chegada dos insumos para produzir imunizantes em território nacional, aplicando as doses de acordo com as prioridades estabelecidas pelo plano nacional, de forma simultânea e sem fura-fila.