São cada vez mais evidentes os sinais de que o plano de vacinação do governo federal carece de eficiência e de credibilidade. Por isso, está na hora de uma ação mais enérgica por parte dos governadores. Em entrevista ao Jornal do Almoço, da RBS TV, Eduardo Leite anunciou que já mantém tratativas diretas com laboratórios, uma precaução não apenas louvável, mas também necessária. Mais do que um eventual gesto político de enfrentamento ao Planalto, a busca de alternativas pelos Estados se transforma em uma urgência imposta pela falta de opções.
A batalha politiqueira pela foto da primeira imunizada no país, vencida por João Dória, foi sucedida pelo vácuo de certezas sobre a imagem que realmente importa, a do último cidadão brasileiro a receber a sua dose.
O primeiro sinal a justificar a iniciativa de Eduardo Leite não é novo. Veio com a demora de Brasília para definir as ações, os critérios e a logística, enquanto outros países já assinavam contratos com laboratórios e fornecedores de insumos desde o primeiro semestre do ano passado. Nessa época, o governo brasileiro desperdiçava tempo, energia e vidas com teses estapafúrdias, que variavam entre teorias conspiratórias sobre a China e acusações de que a imprensa estaria disseminando pânico entre a população. Quase um ano depois da chegada da pandemia ao Brasil, a contagem dos mortos ultrapassa 210 mil. Mas nem isso desvia o presidente Jair Bolsonaro e alguns de seus auxiliares mais próximos do deboche, da incitação ao conflito e do negacionismo.
Personagem em ascensão nesse enredo de trapalhadas e omissões, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, não consegue precisar as datas de um eventual cronograma de imunização ou sequer enviar um avião alugado com dinheiro público à Índia para buscar as doses da vacina que garantiriam a continuidade do processo. Como se não bastasse, a falta de oxigênio e o caos no sistema de saúde de Manaus podem ser classificados das mais variadas maneiras, menos como surpresa.
A falta de definições passa também pelos erros no relacionamento com a China, tantas vezes atacada de forma oportunista e nada pragmática pelo clã Bolsonaro. É de Beijing que depende o envio de um insumo fundamental para a fabricação da vacina no Brasil. Infelizmente, aconteceu o que se temia. A batalha politiqueira pela foto da primeira imunizada no país, vencida por João Doria, foi sucedida pelo vácuo de certezas sobre a imagem que realmente importa, a do último cidadão brasileiro a receber a sua dose.
Por isso, aproxima-se a hora de Eduardo Leite e de outros governadores assumirem as rédeas da vacinação. Justificadamente prudente e ciente das suas responsabilidades institucionais, o governador gaúcho declarou, no Jornal do Almoço de terça-feira, que irá esperar “mais alguns dias”. Importante que siga mantendo conversas com seus colegas no sentido de garantir um esforço coordenado para que a imunização seja oferecida, o mais rapidamente possível, a todos os brasileiros, uma vez que o governo federal não demonstra, até agora, real interesse e capacidade em fazê-lo.