Por Igor Oliveira, consultor empresarial
Entre papéis de desenho e gestão de programas de inovação (sobretudo de aceleração de startups), atuei em uma dúzia deles. Como investidor, tive três saídas bem-sucedidas. Trabalhei na Startup Heatmap, que é a principal organização a fornecer inteligência para gestores de programas de startups na Europa. Analisei dados de todas as conferências de tecnologia no continente. Em Lisboa, sede atual do Web Summit, organizei um seminário com gente de governo e investidores de 14 países sobre estratégias para alavancar seus ecossistemas de startups.
Posso dizer com toda a tranquilidade de quem debateu o tema no mais alto nível: pagar para ter o Web Summit em 2022 é o equivalente a aumentar a produção de soja em 1992. Pode até dar lucro, mas é commodity.
Web Summit é apenas uma das três marcas de uma empresa que concorre com outras parecidas ao redor do mundo. Aqui em Lisboa, onde estou no momento, há grande questionamento sobre a efetividade do investimento público massivo que é feito há alguns anos nesse evento, sem o devido processo licitatório. A cada edição que passa, maior o consenso na comunidade de startups de que essa é a conferência mais “plastificada” da Europa. Tudo é grandioso, porém pouco genuíno.
Trazer uma franquia internacional é uma escolha manjada e hoje muito questionável
Conferências têm um papel relativamente importante nos ecossistemas. Aumentam a conectividade local e global. Dão coesão ao mesmo tempo em que ampliam a diversidade. Ajudam a formar as narrativas de sucesso que viram paradigmas para quem empreende. Por isso mesmo é crucial que sejam produto de um movimento de inovação autêntico. Trazer uma franquia internacional é uma escolha manjada e hoje muito questionável.
Estive em algumas das conferências com mais caráter na Europa, como o Pirate Summit, em Colônia. São eventos que congregam naturalmente pessoas que compartilham de determinados valores, atuam em determinados setores, sofrem juntas com os mesmos problemas. Por meio deles, essas localidades desenvolvem comunidades de pessoas empreendedoras que realmente lideram vanguardas globais específicas, conectadas a seus pares no mundo. E isso, no mundo em que vivemos, é o que há de mais precioso.