Por Igor Oliveira, consultor empresarial
Não sou noviço nessa agenda ESG (sigla em inglês que descreve a adoção de critérios ambientais, sociais e de governança, sobretudo no setor financeiro). Onze anos atrás, tive minha primeira experiência profissional na área, em uma agência de rating especializada na Holanda. Depois trabalhei com vários outros clientes em diversos países. Hoje já não enquadro minha atuação profissional sob essa bandeira. Além do greenwashing, cada vez mais elaborado, há outras razões pelas quais tomei essa decisão.
O senso comum diria que instituições financeiras poderiam utilizar tais critérios para descobrir bons negócios a serem financiados, segurados ou investidos no contexto das transformações socioambientais que vivemos. Porém, essa raramente é a lógica adotada. Na maior parte dos casos, o que se quer é excluir aquelas empresas que destoam negativamente das outras em seu setor, ou setores inteiros vistos como nocivos. Dessa forma, teoricamente, o capital permaneceria distante dos maiores riscos ESG.
O problema é que o dinheiro sempre acha um caminho até os projetos destrutivos. E o capital que encontra esse caminho é justamente o que tem menos escrúpulo, oriundo das fontes mais sujas, o que faz com que o desempenho ESG desses projetos torne-se ainda pior, causando mais danos civilizatórios. A combinação entre desinvestimento ESG e possíveis sanções econômicas pode acelerar o colapso da floresta tropical amazônica e do Cerrado. É a famosa boa intenção no inferno.
Precisamos combinar critérios ESG com diversos instrumentos de capital propositivo, que acelerem, por exemplo, a bioeconomia de valor agregado na região amazônica. Fazer que esse tipo de oportunidade de investimento fique disponível não apenas aos grandes investidores, mas chegue ao varejo. Proporcionar que os projetos investidos utilizem modelos de propriedade e governança pulverizados ao longo das cadeias de valor, para que não se criem incentivos perversos aos donos desses empreendimentos. Por essas razões, é fundamental o papel das organizações que se deram conta desses paradoxos. No Brasil, posso apontar Sitawi, Conexsus, Semente Negócios, TerraMagna e Agryo. Recomendo que se acompanhe o trabalho delas para saber mais.