O acelerado crescimento no número de casos e de mortes pelo novo coronavírus no país torna impossível ter certeza de quando a economia brasileira poderá retornar a algo próximo da normalidade. Com as medidas de distanciamento em vigor, necessárias para frear os contágios e evitar o caos na rede de saúde, é certo que a esmagadora maioria das empresas nacionais não conseguirá reabrir as portas tão logo e mesmo quem está operando tem neste momento uma demanda muito abaixo da usual. Esta também é uma situa-
Como se temia no início da crise, de nada adianta acenar com cifras estratosféricas se, esbarrando na realidade, os recursos não chegam à ponta
ção dramática para dezenas de milhões de trabalhadores autônomos, sem carteira assinada e desempregados que, neste período, precisam do auxílio emergencial do governo federal para sobreviver. A gravidade do quadro, portanto, exige que sejam destravados os recursos prometidos pelo Planalto para socorrer companhias e cidadãos.
O que se observa agora, conforme assume o próprio governo, é uma imensa dificuldade para fazer o dinheiro chegar à ponta, para quem realmente precisa – e com urgência. O próprio secretário especial de Produtividade, Emprego e Competitividade do Ministério da Economia, Carlos da Costa, admitiu no início da semana que o crédito para as empresas, especialmente para micro, pequenas e médias, está empoçado. A redução do compulsório dos bancos, uma medida para aumentar a liquidez e incentivar empréstimos, não surtiu o efeito desejado. Há poucos dias também constatou-se que, dos R$ 40 bilhões anunciados para financiar a folha de pagamento e manutenção de empregos por um período de dois meses, apenas 1% do total, pouco mais de R$ 413 milhões, foi de fato liberado. Alega o governo que a maior parte das empresas não tem a folha de pagamento nos bancos, como fazem as maiores companhias, dificultando a liberação dos recursos pelas instituições financeiras.
Os obstáculos que surgem a todo momento, infelizmente, mostram que quem planejou as medidas não percebeu uma realidade conhecida. É preciso que o governo encontre rapidamente uma forma de fazer os recursos fluírem. Caso contrário, serão confirmadas as piores previsões de uma quebradeira generalizada, com os índices de desemprego disparando ainda mais no país. É um oxigênio vital para a economia brasileira.
Diante da dificuldade, a promessa agora é lançar novos programas de crédito para pessoas jurídicas de menor porte, que poderiam chegar a R$ 100 bilhões. Mas, como se temia no início da crise, de nada adianta acenar com cifras estratosféricas se, esbarrando na realidade, os recursos não chegam à ponta, para o tomador. Sem se solucionarem entraves burocráticos, a recessão tende a se prolongar e o mercado de trabalho a se deteriorar ainda mais.
As dificuldades se repetem na liberação do auxílio emergencial de R$ 600. Proliferam queixas de falhas no aplicativo da Caixa e negativas que seriam injustificadas. O resultado aparece nas perigosas filas que geram aglomeração nas agências, até mesmo para tirar dúvidas. O governo também não liberou o calendário do pagamento da segunda parcela, na segunda-feira, como esperado. Passou o anúncio para terça, mas houve nova frustração. A primeira informação era de que o dinheiro começaria a ser pago no dia 27 de abril, mas milhões de brasileiros ainda vivem a angústia de não saber quando terão os recursos que precisam para necessidades básicas, como alimentação.