Por Gabriela Ferreira, consultora em inovação e empreendedorismo e professora da PUCRS
Trabalho remoto, ensino à distância, comércio eletrônico. Consumo consciente, cuidados com a saúde e bem-estar. Faça você mesmo, more perto do trabalho, compre do pequeno negócio local. Uma transformação radical e impensada no mundo vem aí, dizem muitos. Não é verdade: nem impensada e nem tão radical assim, como veremos.
Há muito tempo, e nós que estudamos tendências temos isso bem claro, essas mudanças vêm sendo apontadas por agências e profissionais. Como tendência não é moda, elas vão surgindo devagar, nos detalhes expostos para olhos atentos. Crescem, se consolidam nos diferentes âmbitos, social, econômico, cultural e político, e, finalmente, se tornam parte do dia a dia. Quem nunca ouviu falar em home office, e-commerce, health care? Agora tudo isso está na nossa casa, em bom português. Se tendência pode ser definida como a propensão dos indivíduos em modificar hábitos estabelecidos, embarcamos – simbolicamente – nesse trem de alta velocidade em 2020. Mas ele vem alertando sua chegada há algum tempo. Não ouviu o apito? Pois é, não é assim que esse trem se anuncia. E, para não sermos atropelados novamente, precisamos entender: o coronavírus não é causador de nada, ele é apenas um catalisador que acelerou o processo.
Os negócios usam (ou deveriam usar) estudos de tendências para definir suas estratégias. Se a inovação é um caminho fundamental para a competitividade, as tendências são seu alimento. Mas estudar tendências não é ter uma lista desconexa de várias coisas, em dimensões diferentes, como o que se encontra na maioria dos resultados da internet, cuidado! É um pouco mais complexo: cada tendência traz no seu cerne uma contra tendência, e é preciso ficar atento. Por um lado, um mundo largamente digitalizado; por outro, uma das coisas que mais cresce é o cuidado com a saúde mental e a valorização da humanidade. É assim: complexo.
E por que digo que a mudança não será tão radicalmente transformadora? Porque tendências são movimentos que nascem da sociedade. Não é algo externo, uma abdução de outro planeta. O vírus, como catalisador, provoca, instiga, cutuca. Mas ele irá embora e o que vai ficar é a mudança que cada um estiver disposto a fazer. Deepak Chopra diz que o futuro muda a cada escolha que fazemos. Qual é a sua?