O grande dilema dos gestores estaduais e municipais, hoje, é encontrar a calibragem correta para apertar ou relaxar as medidas restritivas em relação a distanciamento social e atividades econômicas em virtude do conhecimento impreciso da extensão real dos contágios pelo novo coronavírus Brasil afora. As decisões só não podem deixar de observar as orientações técnicas, transmitidas pelas autoridades da saúde competentes, baseadas no que a ciência conhece até hoje do comportamento da covid-19, uma doença que intriga e a cada dia surpreende pesquisadores.
Para o Estado, o melhor ponto de partida é o trabalho conduzido pela Universidade Federal de Pelotas
Para o Estado, o melhor ponto de partida, sem dúvida, é o trabalho conduzido pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel), cuja primeira etapa revelou um nível aproximado de subnotificação e as regiões que são mais ou menos afetadas, uma informação valiosa para a tomada de decisões pelos Executivos, como fez o governador Eduardo Leite, ao manter as restrições no entorno de Porto Alegre e permitir que prefeitos de outras regiões possam avaliar melhor suas situações locais e apontar os caminhos dos próximos dias e semanas. A pesquisa da UFPel será agora aplicada em nível nacional, jogando uma preciosa luz sobre uma realidade ainda pouco conhecida de Norte a Sul.
Os gestores não podem esquecer que o quadro para o Estado apresentado pela universidade gaúcha corresponde a uma realidade de duas semanas antes da realização dos exames e da coleta de dados. Ou seja, o panorama à frente pode ser diferente, materializando-se em números maiores de casos, de hospitalizações e de mortes. As experiências de outras regiões e cidades do mundo, como a Lombardia, na Itália, e Nova York, nos Estados Unidos, mostram que a hesitação na fase inicial dos contágios pode ter consequências catastróficas. Uma aparente tranquilidade agora não significa estar livre de um surto amanhã. Esta constatação torna ainda mais difícil encontrar a medida adequada para não sufocar demasiadamente as atividades econômicas e, ao mesmo tempo, preservar vidas.
Diante deste problema, com saídas que não são necessariamente excludentes, o perigo é de se render a pressões externas ao campo técnico, seja qual for a linha de atuação a ser adotada. Confrontados com angustiante dúvida, cabe aos governantes optar sempre pela via da responsabilidade, o que inclui uma minuciosa verificação do grau de eficácia dos controle locais para que não ocorram aglomerações como as que se viram em cidades gaúchas nas primeiras horas de flexibilização da abertura do comércio. Decisões precipitadas ou mal aplicadas agora podem aprofundar e estender a crise econômica e humanitária, caso a disseminação do novo coronavírus saia de controle e gere efeitos ainda mais trágicos e imprevisíveis. Não há mapa a guiar governadores e prefeitos por caminhos absolutamente certos em um território desconhecido. Por isso mesmo, a cautela é a melhor conselheira porque o açodamento neste momento crítico de contenção ou descontrole da pandemia pode gerar desdobramentos graves e significar uma condenação dura da História.