Por Ricardo Hingel, economista, consultor e conselheiro de empresas
A pandemia da covid-19 atingiu o Brasil em um péssimo momento. Enfileirando décadas de crescimentos tímidos que coincidiram com o avanço do Estado na economia, com o aumento continuado da carga tributária e da dívida pública, construiu-se um país gastador.
A recessão recente e a modesta recuperação que vinha ocorrendo, era a conta de desatinos históricos e que milhões de desempregados e empresas em dificuldades conhecem bem as consequências.
As reformas já implantadas, com destaque à trabalhista e à da previdência, aguardam a companhia de um conjunto de muitas de outras, com destaque à administrativa e tributária, além das privatizações e concessões e que visam dar maior racionalidade e eficiência ao caro aparato estatal brasileiro.
Lamentavelmente, o Brasil é o país da dominância política, onde qualquer pauta se submete às particularidades de nosso meio político e parece que inovamos em nosso sistema; embora tenhamos oficialmente o presidencialismo, na prática convivemos com uma espécie de semiparlamentarismo, na medida em que grande parte das questões relevantes é definida no Congresso, de quem o Executivo depende. Não satisfeitos, constituímos com um sistema decisório ainda mais "inovador" pois hoje o país é gerido por uma tríade representada pelos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, cabendo a esse último a palavra final. Confuso!
O conjunto de reformas em andamento foi colocado em quarentena pela pandemia e pelo agravamento do quadro político e cresceram as dúvidas sobre sua viabilidade. Não há crescimento de longo prazo sem elas.
Agora, uma rápida expansão do dispêndio público é inevitável, pois é obrigatório que se socorram empresas e pessoas fragilizadas pelo momento econômico e se justifica um gasto público extraordinário, mas temporário. Auxílio a estados e municípios também se faz necessário, face à drástica queda em suas arrecadações. Importante, a expansão desse gasto deverá retroagir, não sendo possível subirmos ainda mais o patamar do déficit fiscal pós-crise. Se contássemos com as finanças públicas equilibradas, seria mais fácil o enfrentamento de situações de anormalidade como a atual.
O Rio Grande do Sul, que vinha implantando suas reformas visando ao equilíbrio fiscal de longo prazo, além de ser afetado pela lenta recuperação econômica nacional e pela covid-19, em 2020 foi atropelado pela forte estiagem, que deve derrubar a produção de grão sem algo próximo de 40%, prejuízo irreparável.
São nossas quarentenas para uma recuperação lenta e complexa.