Por Ricardo Hingel, economista, consultor e conselheiro de empresas
Já nos acostumamos e por vezes parece que nos conformamos em dizer que nossa "guerra civil" ocorre diariamente em nossas ruas e estradas. Milhares de pessoas morrem ou se ferem todos os dias em acidentes de trânsito.
A motivação deste artigo me surgiu na última sexta-feira (7) à noite quando me dirigi ao nosso litoral. Há anos tenho por hábito ir para Xangri-lá todo o final de semana, planejando sempre horários de menor fluxo exatamente para reduzir os riscos da viagem. Naquele dia, tive que entrar na freeway próximo das 21h, quando presenciei os mais diversos tipos de imprudências sendo cometidos. No momento, a estrada permitia que nas três pistas os carros andassem entre 60 e 80 km/h e com frequentes paradas.
É costume de motoristas na freeway se deslocarem pela pista da esquerda e não darem passagem, e eles são muitos, prejudicando o fluxo e obrigando quem vem atrás a ultrapassar pela direita, errado e passível de multa. Mas os problemas naquela noite iam muito além.
Tinha a turma do zigue-zague, que conseguia usar as três pistas mais o acostamento costurando da esquerda ao acostamento e retornando à esquerda e fazendo essa "proeza" muitas vezes em espaços de até cem metros, evidentemente à custa de diversas manobras arriscadas e o fechamento de muitos veículos.
O suprassumo da imprudência naquela noite foi quando, nas diversas vezes em que a rodovia parou, comboios de automóveis trafegaram pelo acostamento a mais de 100 km/h. Nas mais de duas horas em que fiquei na rodovia, devo ter contado mais de cem veículos "voando" pelo acostamento. Talvez a inexistência de qualquer fiscalização ou de viaturas da Polícia Rodoviária Federal estimulem esses tipos de comportamento, face à permanente expectativa de impunidade.
Por vezes parece que nos conformamos em dizer que nossa "guerra civil" ocorre diariamente em nossas ruas e estradas
Em dado momento, um motociclista ultrapassou pelo acostamento da esquerda a aproximadamente 120 km/h e assim seguiu lépido e faceiro.
A grande maioria dos acidentes de trânsito ocorre por imperícia, por imprudência ou por alcoolismo, mas, sem dúvida, a arrogância e a soberba de muitos de nossos motoristas é fator determinante, ao se comportarem como se fossem donos das estradas e muitas vezes dos destinos de terceiros.
Certamente que aqueles velozes comboios que ultrapassavam pela direita ou a turma do zigue-zague possuíam uma ou mais dessas características. Ah! A maior parte dos motoristas se porta bem. Lamentavelmente, na próxima sexta-feira, esse quadro se repetirá. É uma pena!