Por Fábio Bernardi, sócio-diretor de criação da Morya
Em 1995, McArthur Wheeler assaltou dois bancos consecutivos no mesmo dia na cidade de Pittsburg, na Pensilvânia, Estados Unidos. Detalhe: ele não usou nenhuma máscara para esconder seu rosto. Flagrado pelas câmeras, ele foi obviamente reconhecido e facilmente capturado. Ao ser preso, estava profundamente desolado. Ele havia passado suco de limão no rosto e acreditava que, com isso, teria ficado totalmente invisível.
Estamos cheios de McArthur Wheelers no Brasil. Gente que não usa máscara quando sai na rua. Gente que acredita piamente nas coisas mais absurdas e bizarras que ouviu por aí. E, pior ainda, gente que nem precisa de suco de limão para tornar outras pessoas invisíveis.
No momento em que escrevo este artigo, já são 1.223 mortos por Covid-19 no país. Se juntarmos os familiares e a rede hospitalar que assistiu essas pessoas, passaremos de 10 mil brasileiros que estariam mancomunados com a China, o João Doria e a Rede Globo para fabricar atestados de óbitos por um vírus comunista que não existe. Hoje mesmo recebi um
WhatsApp defendendo teses claramente equivocadas com o seguinte texto: “Eu penso assim desde o início e ainda não mudei de opinião. Alguns pensam diferente por medo e outros pelas ideologias e a ganância pelo poder”. Percebem? Eu tenho razão e os outros têm outra coisa.
O Brasil convive com o corona em nosso quintal há apenas 48 dias, mas o vírus do delírio ideológico já nos contaminou há mais tempo. Nossos anticorpos de sanidade e razoabilidade vão se enfraquecendo diante da agressividade senil dos que só enxergam preto e branco, sem matizes, sem pluralidade, sem debate. Compreensível, já que conhecimento técnico, ciência e estatística são, por natureza, produção intelectual de terceiros que não permitem que teses estapafúrdias sobrevivam sem confronto da razão. Para quem não tem consciência da própria ignorância, aquilo que não se entende é ameaça e, por isso, vira inimigo por raiva e, claro, medo.
Mas, parafraseando o poeta, “eles passarão, nós passarinho”. A curva no Brasil parece estar mais branda do que a de outros países. Pode ser efeito de contabilidade tupiniquim, claro. Mas espero que outras variáveis estejam contribuindo para isso, em especial nosso isolamento antecipado, a tese da vacina BCG e o SUS. Fatores sobre os quais, se Deus quiser, muitos vão querer passar suco de limão para tentar provar que era só uma gripezinha.