Por Ely José de Mattos, economista e professor da Escola de Negócios da PUCRS
O que se almeja em uma economia, falando de modo bastante genérico, é o aumento do bem-estar da sociedade. Em termos de consumo de bens e serviços, os economistas costumam entender este bem-estar como o tamanho do mercado de modo eficiente, isto é, a quantidade consumida em combinação como o número de consumidores atingidos e, ainda, gerando lucro adequado.
Quando se oferta um produto, é possível aumentar mercado através de uma política de preços. Esta política, por exemplo, pode estar baseada na sensibilidade de diferentes grupos de consumidores ao preço – em economês, se chama elasticidade-preço. Pense em dois grupos: um destes grupos é pouco sensível ao preço, seja porque precisa muito daquele produto ou porque tem dinheiro suficiente para pagar sem ligar para o valor; o outro é bem mais sensível, porque não gosta muito do produto ou porque tem forte restrição de dinheiro.
Se o comerciante define um preço único mais alto, atende apenas aquele grupo que não se importa, que tem dinheiro. Se ele coloca preço mais baixo, continua atendendo este primeiro grupo, mas passa também a atender quem tem menos dinheiro e é mais sensível ao preço. Acontece que um preço único mais baixo pode não maximizar o lucro do comerciante. Uma saída, então, seria ele fazer dois preços diferentes: um preço mais alto para aqueles que não se importem e um preço mais baixo para aqueles mais apertados. Desta forma, ele amplia o mercado e ainda maximiza lucro.
É exatamente isso que acontece com a meia-entrada. Esta política é um exemplo clássico de discriminação de preços. Por entender que estudantes tendem a ter sensibilidade maior ao preço de eventos culturais, a cobrança de valores menores para este grupo (e maiores para os outros) permite a ampliação do mercado. E sabe-se que a meia-entrada ampliou o consumo de cultura pelos mais jovens, pobres e não pobres. No entanto, os mais pobres que não são estudantes não gozam deste benefício.
Portanto, a meia-entrada é uma política social via ferramenta de mercado. Não há nada de “comunista” na medida. Agora, ela pode ser aperfeiçoada para que seja ainda mais efetiva. Uma sugestão seria, por exemplo, segmentar os grupos que têm direito ao benefício mais pela renda do que pela ocupação. Uma vez que estudantes mais ricos são menos sensíveis ao preço, os resultados poderiam ser mais significativos em termos de mercado e alcance social.