Demorou mais do que o desejável, mas os efeitos das primeiras reformas já começam a ser sentidos nos planos federal, estadual e municipal, na capital dos gaúchos.
No plano federal, o otimismo na bolsa – mesmo com o abalo gerado pela crise entre Estados Unidos e Irã – e a retomada de investimentos em setores fundamentais, como a construção civil, são sinais a serem celebrados. Reformas iniciadas no governo de Michel Temer, como a trabalhista, e seguidas por Jair Bolsonaro, como a da Previdência, não geraram consequências instantâneas, mas é sintomático que o Brasil já tenha recebido indicações de que poderá ter seu rating elevado, depois de anos de rebaixamento e de estagnação. Seria uma prova inequívoca da confiança externa nas medidas implementadas pelos dois últimos governos. A queda do risco-país a níveis que não se via há anos atesta que o mundo começa a olhar a nossa economia por lentes mais benevolentes e realistas.
Será preciso, cada vez mais, coragem e responsabilidade para aprofundar as reformas em estruturas enferrujadas e contaminadas por privilégios
No plano estadual, no qual o buraco das contas é proporcionalmente muito mais profundo, o governo de Eduardo Leite conseguiu evitar a antecipação do ICMS para pagar o 13º salário. Os repasses para a saúde, no final do ano, foram realizados sem atraso e acordos com credores possibilitaram quitações de precatórios em volume inédito. Leite ainda tem desafios e promessas a cumprir. A votação da maior fatia de seu pacote de projetos pela Assembleia, prevista para este mês, é a encruzilhada que dará rumo ao futuro do Estado.
Capital e termômetro do Rio Grande do Sul, Porto Alegre ostenta resultados mais vistosos ainda, até por entrar no quarto ano de mandato de seu prefeito. Depois de três anos de gestão com torniquete fechado e projetos de reformulação de receitas e despesas aprovados pelos vereadores, Nelson Marchezan criou condições para chegar ao fim de 2020 com as contas equilibradas, uma façanha para um município com tradição de inadimplência junto a fornecedores.
Embora em momentos e dificuldades distintos, as lições dos três níveis de gestão indicam, independentemente de ideologias e de discursos eleitoreiros, o enfrentamento de privilégios e do reacionarismo às mudanças nas estruturas públicas. É natural que medidas como essas, em um primeiro momento, gerem desgaste, mas são recompensadas, mais adiante, por um fôlego a ser usufruído por todos os contribuintes e não apenas por aqueles setores com maior poder de pressão sobre governos.
Com essa filosofia em mente, o Congresso, a Assembleia e a Câmara Municipal de Porto Alegre têm demonstrado estar à altura da responsabilidade e do compromisso com a maioria da população, ao dar aval para que regimes públicos injustos e anacrônicos se transformem em coisa do passado. Para isso será preciso, cada vez mais, coragem e responsabilidade para aprofundar as reformas em estruturas enferrujadas e contaminadas por privilégios.