Por Walter Lídio Nunes, vice-presidente da Associação Gaúcha das Empresas Florestais (Ageflor)
A monarquia absolutista, com sua corte e privilégios, promoveu uma enorme desigualdade social. No Brasil, sua substituição pela democracia criou uma elite composta por pessoas e lideranças que passaram a governar a nação de analfabetos de então. Neste início, os funcionários públicos tinham benefícios diferenciados, condizentes com a realidade social da época, e tornar-se servidor do Estado passara a ser uma referência e um objetivo social nacional.
A evolução da industrialização e o adensamento das cadeias econômicas motivaram a legislação trabalhista, trazendo direitos e benefícios inéditos para os trabalhadores da iniciativa privada. No entanto, as vantagens dadas aos servidores públicos cresceram ainda mais em relação aos correspondentes da iniciativa privada, caracterizando-as como privilégios dados à "corte" da democracia. Tal situação foi patrocinada por uma governança patrimonialista clientelista, subordinada ao corporativismo que resultou numa máquina pública burocrática, ineficiente, de alto custo e plena de "cargos de confiança".
Este contexto se traduz no Rio Grande do Sul de maneira mais agravada, com grande contribuição para o déficit das contas governamentais. Por isso, uma reforma administrativa estadual é prioritária e inadiável. É preciso mudar paradigmas para valorizar a carreira pública, com meritocracia e benefícios alinhados à realidade do mercado profissional privado.
Manifestações das corporações em favor das suas posições são admissíveis, mas é injusto impor demandas por privilégios historicamente adquiridos sobre uma sociedade desamparada pela falta de recursos que já não dão conta de pagar os próprios funcionários. É imprescindível rever este modelo superado frente à realidade que hoje vivemos – e com tendência a piorar ainda mais. Temos que considerar uma transição capaz de acomodar a nova realidade e de ambicionar um futuro melhor para o nosso Estado, de modo a atender aos menos favorecidos com serviços de qualidade e de fomentar um empreendedorismo que gere empregos. Este é o momento em que governo, deputados, lideranças e entidades inclusivistas devem se mobilizar para efetivar reformas que contemplem os interesses maiores dos gaúchos, visando a um futuro digno para todos.