Por Felipe Garcia Ribeiro, ex-secretário adjunto de Política Econômica do Ministério da Economia e Professor de Economia da UFPel
No começo do mês de outubro, Zero Hora noticiou que, no Rio Grande do Sul, a população com 60 anos de idade ou mais estava prestes a se tornar superior à de crianças e adolescentes de zero a 14 anos. Pela ótica econômica, trata-se de fenômeno demográfico inquietante, dado que tem sido atribuído como um dos prováveis limitadores do crescimento.
Isso porque envelhecimento é, por um lado, acompanhado pelo descompasso entre poupança e investimento; recursos são mais direcionados a consumo (problema de demanda). Por outro, a força de trabalho torna-se menor e até mesmo menos produtiva, o que limita a capacidade de expansão da produção (problema de oferta).
O curioso é que Daron Acemoglu, economista do prestigiado Massachusetts Institute of Technology, obteve, recentemente, evidências de positiva correlação entre envelhecimento e variação da renda per capita. O excesso de poupança tem proporcionado em países ricos, nos quais mercados financeiros funcionam bem, investimentos na automação da produção e no desenvolvimento e uso de inteligência artificial (IA). Tecnologia no lugar do trabalho humano.
No século passado, crescemos, em boa medida, tanto em razão do bônus demográfico quanto pela realocação da força de trabalho na direção de atividades mais produtivas. Agora, a história é outra. Envelhecemos sem termos nos tornado ricos o suficiente para viabilização de investimentos em tecnologias capazes de compensar a transição demográfica em marcha. A possibilidade de implementação de automação e IA em larga escala, no momento, é remota.
Portanto, o desafio reside em aumentar a produtividade do trabalho e a eficiência da economia com o que temos. A primeira requer educação de qualidade, enquanto a segunda exige bom ambiente de negócios, redução de subsídios distorcivos e abertura comercial. São as reformas em âmbito micro que destravarão os mercados. A boa notícia é que o diagnóstico está na mesa e o receituário é de conhecimento dos responsáveis pela condução da política econômica.
A série Ideias para o Futuro 60+ tem apoio de Unimed Federação/RS