Chama atenção e tem de ser objeto de profunda reflexão a reportagem publicada no caderno DOC da mais recente superedição de Zero Hora sobre as profissões que, nos últimos 10 anos, tiveram aumento ou diminuição na procura pelos jovens na Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(UFRGS). Há de se analisar especialmente a perda de interesse dos vestibulandos por faculdades mais ligadas às ciências exatas, principalmente as engenharias, mas também outras, como Química e Administração. Uma aparente contradição está no fato de que essas são áreas em que a instituição tem reconhecida competência, com cursos que estão entre os melhores do Brasil e, em alguns casos, são inclusive referência internacional.
É plausível afirmar que na raiz do pouco interesse está a dificuldade dos estudantes em lidar com a matemática, um problema que nasce nas séries iniciais
Uma observação mais apressada poderia concluir que seria um fenômeno relacionado ao futuro das carreiras ou salários. Mas basta verificar algumas das faculdades que mais vêm aumentando a relação entre candidatos e vagas para se constatar que não se trata de uma questão de mercado, ligada à saturação de certas profissões. Nota-se que Artes Visuais, Teatro, Psicologia e Música, que estão longe de serem as áreas mais remuneradoras, aparecem como as que tiveram maior crescimento na procura.
Não é novidade que as engenharias vêm sofrendo com a recessão que castigou o Brasil e a consequente forte queda dos investimentos em infraestrutura, na construção civil e outras frentes industriais. Mas é plausível afirmar que na raiz do pouco interesse está a dificuldade dos estudantes em lidar com a matemática, um problema que nasce nas séries iniciais e, consequentemente, se torna um fator desestimulador quando é preciso se debruçar em cálculos mais avançados.
O resultado é que, com essa deficiência, o Brasil segue retardatário em ciências exatas e em outras áreas correlatas que são essenciais para lapidar os talentos necessários a um novo ciclo de crescimento. É preciso, portanto, repensar o ensino dessa disciplina nos ensinos Fundamental e Médio no país. Na Ásia, na Europa e nos Estados Unidos, matemática e física são matérias que recebem extrema atenção, sem que isso signifique desconsideração às artes, línguas ou ciências biológicas. São complementares na preparação dos jovens para a vida profissional e para o desenvolvimento científico.
No Brasil, é evidente, nas últimas décadas, a inclinação maior pelas ciências humanas. Também são importantíssimas para a formação da cidadania e de indivíduos responsáveis e com capacidade de reflexão. Mas o país peca no ensino da matemática. Os estudantes brasileiros, lamentavelmente, costumam ocupar as últimas colocações em exames internacionais. Para recolocar a nação na estrada rumo ao desenvolvimento, será preciso uma revolução na educação básica, encontrando meios para despertar, nas crianças e adolescentes, o fascínio e o entusiasmo pelos desafios das ciências exatas.