Por Fábio Bernardi, sócio-diretor de criação da Morya
Certo está o calendário, que colocou o Dia das Crianças bem pertinho do Dia do Professor. Não há nada tão transformador para um país quanto o futuro de suas crianças, e não há nada mais transformador para o futuro delas do que um bom professor. O professor é o antídoto para o celular. Só ele pode contrapor-se de forma positiva à influência desse novo brinquedinho na vida das crianças, adolescentes e jovens. Se o celular coloca o mundo na mão deles, o bom professor ajuda a ler este mundo da maneira certa. E isso é ainda mais importante num país em que as crianças têm celular mas não têm água encanada. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) revela esse Brasil de contrastes cada vez maiores. Se, por um lado, 92% dos lares brasileiros já têm celular, por outro apenas 66% das casas têm esgoto. Como educar nessa realidade?
O salto de qualidade, como ser humano ou como nação, vem do conhecimento, da cultura e de uma visão de mundo ampliada, capaz de relacionar fatos, construir nexos e colocar causa e efeito na mesma equação. Isso tem a ver com o ensino e com o professor, mas também tem muito a ver com a aprendizagem e com o quanto avançamos como país em condições básicas de qualidade de vida. Enquanto o mundo avança para nanotecnologia, robótica, inteligência artificial, reprogramação genética, realidade aumentada, engenharia reversa de moléculas, aceleração exponencial e outros temas disruptivos, nós ainda precisamos sair da pedra lascada em muitos aspectos – e, ao que parece, inclusive na mentalidade de quem governa o país.
Por sua capacidade de mudar a vida de uma criança, merecem mais consideração de todos
Todo esse contexto só faz aumentar minha estima e respeito pelos professores. Por sua capacidade de mudar a vida de uma criança, merecem mais consideração de todos – e, inclusive, de si mesmos. Quantos professores respondem a essa responsabilidade com esmero, comprometimento, seriedade e amor pelo seu ofício? Ainda lembro de quando os jornais e revistas eram lotados de anúncios de homenagem no dia 15 de outubro. Aquele Dia do Professor, que nos fazia pensar nos homens e mulheres que nos moldaram como somos hoje e que têm nas mãos o futuro da nação, nós estamos deixando sumir aos poucos. E não devíamos: não há chance de nada sem bons professores. Nem mesmo de fazer o saneamento básico ser tão básico quanto o celular.
